05 mar, 2025 - 08:13 • Olímpia Mairos
O cardeal D. Américo Aguiar começa a sua mensagem de Quaresma referindo os tempos de incertezas que vivemos e pede aos diocesanos que encarem os dramas das violências na diocese e ajudem a erradicar todas as formas de violência.
“A guerra na Ucrânia não acaba. Já se passaram três anos e os bombardeamentos continuam a destruir o que já está destruído; no Médio Oriente, o ódio continua a determinar comportamentos e aquilo que hoje é decidido em favor da paz, amanhã pode não acontecer”, nota.
Por isso, afirma que “as cinzas que iremos receber, revestem-se de todo o seu significado”.
“Somos pó e ao pó iremos retornar. Somos cinzas, como são ‘cinzas’ os soldados mortos nos campos de batalha, as viúvas que choram os seus maridos, as crianças órfãs vítimas de redes de tráfico infantil, os pais e as mães que recebem os corpos dos seus filhos”, observa.
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Para uma melhor vivência da Quaresma, o bispo de Setúbal propõe uma série de questões para reflexão pessoal que conduzam, depois, a atitudes concretas de vida
“De que forma conseguiremos que as cinzas do nosso tempo, nos ajudem a crescer, a sermos capazes de dar mais fruto e fruto em abundância como nos pede o Senhor da vida e da morte? De que modo conseguiremos revolver a terra da vida e lançar-lhe vida nova? De que forma seremos capazes de transformar as cinzas do sofrimento, da morte, do egoísmo, da mentira, das faltas de coerência e de respeito pelo próximo, em sofrimentos que se partilham, tristezas que se superam, generosidade que se dá sem nada esperar em troca? Como seremos exemplos de vida para os mais novos, para os que não têm Fé, para as nossas famílias e amigos?”, aponta.
Aludindo ao lema do Jubileu, “Peregrinos de Esperança” e também à mensagem do Papa para a Quaresma, D. Américo Aguiar reforça o convite a “sermos peregrinos na vida, capazes de nos interrogarmos, de caminharmos juntos, de efetivarmos a conversão à sinodalidade, algo que tanto nos ocupou a nível individual e comunitário nos últimos anos”.
“Sabemos que, como cristãos, a nossa vida está marcada por uma permanente tensão, claramente explicada no mandamento da Lei que nos diz: ‘amarás os teus inimigos como a ti mesmo’… um mandamento que se vai declinando em tantas, mas tantas propostas de amor”, constata.
D. Américo Aguiar aconselha, por isso, a “ignorar as ofensas que nos fazem”, “colocar o bem dos outros à frente dos nossos desejos e vontades”, “retirar da nossa linguagem as palavras que magoam e ofendem”, “tornar rotineiro o exame diário de consciência”, perder o hábito dos queixumes e de má-língua”, “rezar”, “acolher quem tem fome”, “visitar um doente, um preso, um idoso”.
“Tantas, mas tantas propostas de amor, que estão ao alcance das nossas mãos e dos nossos corações. Tantas propostas que nos podem e devem inquietar”, vinca.
Evocando uma vez mais a mensagem do Papa, o cardeal lembra que esta termina com a esperança como apelo à conversão, confiantes em Deus e na Sua promessa de que nos espera a eternidade.
Apesar de não sabermos o que irá acontecer nos próximos dias, semanas ou meses, se a Paz vai chegar ao povo martirizado da Ucrânia, se a Terra Santa se poderá visitar no próximo Verão, ou se a Palestina encontrará o seu território, o cardeal garante que “Deus nunca nos abandona e que cada um de nós é muito amado”, salientando também que “a Humanidade é capaz do pior, mas também do melhor”.
“Confiando nesta certeza, suportada pela Fé, gostaria de vos pedir que fossemos capazes de encarar os dramas das violências na nossa diocese. E que juntos, procurássemos encontrar a melhor forma de erradicar a violência doméstica capaz de matar; a violência verbal, capaz de destruir; a violência da fome, do desemprego e de tantas outras carências”, pede D. Américo na mensagem quaresmal.
O bispo de Setúbal manifesta ainda o desejo de “que cada cristão, cada homem e cada mulher, cada jovem da Diocese de Setúbal, assuma o seu papel, nesta luta que mata e destrói à nossa volta”.
“Tenhamos um objetivo concreto, que nos permita chegar ao Domingo de Páscoa, mais inteiros, mais completos, mais cristãos porque capazes de fazer a diferença, nem que seja na vida de uma pessoa, de uma família, de um casal”, propõe.
Na Diocese de Setúbal, a Renúncia Quaresmal 2025 será encaminhada para duas realidades de carência, de natureza interna e externa.
“A parte que concerne à realidade interna destina-se ao apoio de situações de emergência na diocese, através do Fundo de Emergência Diocesano. O restante valor recolhido reverterá, novamente, para o apoio às crianças visadas no conflito armado da Terra Santa, nomeadamente, e será entregue ao Cardeal Pierbattista Pizzaballa”, informa o prelado.