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Dia de Luto Violência Doméstica

Cáritas Aveiro fez 1.685 atendimentos em 2023

07 mar, 2025 - 08:19 • Henrique Cunha

Para além do atendimento a vitimas, o Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica da Cáritas de Aveiro dá respostas de apoio psicológico e dispõe de assessoria juridica. É o único núcleo no país com uma casa-abrigo para homens. O espaço está lotado.

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O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica revela que “tem vindo a aumentar o número de vítimas atendidas”.

Em 2023, foram realizados 1.685 atendimentos,m número muito semelhante ao de 2024.

Neste Dia de Luto Nacional pelas Vítimas de Violência Doméstica, véspera do Dia da Mulher, ficamos a conhecer melhor o trabalho deste núcleo de atendimento de violência doméstica da Cáritas de Aveiro, o único no país com uma casa abrigo para homens.

Em entrevista à Renascença, Patrícia Pinho revela que a maioria dos casos se situam na faixa etária que vai dos 35 aos 45 anos.


Que tipo de apoio que proporcionam?

A nossa estrutura de apoio a vítimas é um núcleo de atendimento a vítimas de violência doméstica. Temos várias respostas, desde a estrutura de atendimento a vítimas, em que, dentro desta resposta temos a resposta de apoio psicológico a jovens e crianças expostos a um contexto de violência doméstica. Temos também aqui a assessoria relativamente ao Ministério Público com um gabinete sediado na terceira secção do DIAP de Aveiro. E temos também, portanto, depois, a casa-abrigo para homens vítimas de violência doméstica.

Fazem o encaminhamento das situações, pelo que eu percebi, e acompanham depois o decorrer dos processos, mantêm sempre o possível ao lado das vítimas?

Sim, portanto, sempre que nos é solicitado o acompanhamento, mesmo nas diligências em tribunal e essas diligências até podem ir até uma fase, portanto, final do processo, ao nível do julgamento, sempre que possível e solicitado esse acompanhamento, nós fazemos, o acompanhamento à pessoa vítima, sim, ao longo das várias fases do processo.

Tem ideia de quantas pessoas atendem anualmente? Se há uma tendência para o aumento das pessoas que atendem no aumento dos pedidos de ajuda?

Sim, nós temos aqui vários números e os números também acabam por estar aqui influenciados pelos recursos humanos que nós temos naquele ano, afeto àquela resposta, mas, de facto, temos vindo aqui a aumentar quer o número de vítimas atendidas, quer aqui o número de atendimentos realizados nas várias respostas, sim, Quer ao nível do atendimento, na estrutura de atendimento, quer ao nível das crianças, quer ao nível também dos processos no próprio Ministério Público e aqui na própria Casa Abrigo, têm vindo a aumentar os pedidos de ajuda. Portanto, para terem uma ideia, e salvaguardo aqui esta questão, portanto, é uma das respostas do distrito de Aveiro e, portanto, há outras no distrito de Aveiro, portanto, não representa a totalidade dos casos ou de todas as estruturas do distrito, não é? Estamos aqui a falar apenas do núcleo de atendimento a vítimas do distrito de Aveiro. E relativamente aos nossos números, portanto, ao nível da estrutura de atendimento, nós atingimos 327 pessoas vítimas de violência doméstica, isto dá um total de 1685 atendimentos no ano de 2023 e depois, portanto, muito semelhante àquilo que nós tivemos também ao nível dos números em 2024. E a tendência mantém-se, em termos de evolução, quer ao nível das crianças acompanhadas na resposta de apoio psicológico, quer ao nível do Ministério Público e também da Casa Abrigo.

Este aumento decorre de uma maior consciencialização para o problema?

Sim, sem dúvida, portanto, não sabemos se de facto existe mais casos, não é? Aquilo que nos parece é que existe e estes aumentos até ao nível das denúncias, não é? Este aumento ao nível das denúncias formalizadas pelo crime de violência doméstica a nível nacional identifica de facto aqui uma maior visibilidade do problema e maior acessibilidade também ao nível dos serviços de apoio, por parte das pessoas vítimas, sem dúvida.

Eu não sei se há dados que permitam responder esta pergunta, mas quais são as faixas etárias onde se verificam mais casos?

Portanto, tal como disse há pouco, só posso de facto neste momento plasmar aquilo que são os nossos dados, relativamente a esta estrutura, mas de facto a faixa etária onde se verificam mais pedidos e mais atendimentos é a faixa etária dos 35 aos 45 anos neste momento. E é uma tendência que se tem verificado e mantido ao longo dos anos também.

A violência em meio escolar é também uma grande preocupação?

Sim, de facto existe aqui também uma maior visibilidade do problema ao nível da violência no namoro e outras formas de vitimação em contexto escolar e que tem aqui outras dinâmicas também associadas, mas posso-vos dizer que ao nível do público e desta tipologia da violência ao nível do namoro, são poucos os casos que nós de facto acompanhamos porque não há tantos pedidos de ajuda ou quando são encaminhados, por exemplo, por uma CPCJ ou por uma entidade que faz o acompanhamento nesta infância e quando são jovens também, aquilo que acontece é que facilmente também desistem do apoio aqui ao nível psicológico. Portanto, não aderem tão bem aqui ao nível do apoio psicológico. Relativamente aqui à questão da violência no namoro.

Até que ponto as dificuldades económicas estão relacionadas com o aumento da violência?

Bem, há aqui vários fatores, como causa, digamos assim, do problema relativamente ao crime de violência doméstica passam pelas questões de género e efetivamente uma das questões de género prende-se também com esta disparidade salarial entre homens e mulheres. Nós sabemos que os números e a visibilidade dos números, aquilo que reportam é que as mulheres continuam a ser mais vítimas, pelo menos ao nível das queixas reportadas e dos pedidos de apoio a este tipo de estruturas.

E passa também por esta questão da carência, da maior vulnerabilidade económica, mas também por outras questões. Há aqui umas questões culturais também, muito ligadas à questão do género, também educacionais. Muitas vezes esta questão da violência passa de geração para geração e acaba-se por perpetuar ao longo de várias gerações, no fundo.

E também por questões de personalidade. E há aqui um conjunto de fatores que concorrem de facto para a causa e para a manutenção da violência doméstica, sim.

O distrito de Aveiro é um dos que regista mais casos de violência doméstica?

Está sempre entre o quarto e o quinto, um importante distrito com mais incidência, mas também tem a ver com esta questão, quer do trabalho que tem sido realizado ao longo dos anos, aqui ao nível do distrito de Aveiro, quer ao nível também da quantidade de conselhos que nós temos, porque também é um distrito grande, não é? Estamos a falar de 19 conselhos e de facto a questão da dimensão também tem aqui um papel importante, sim.

Há alguma explicação para a existência de uma casa-abrigo para homens?

Portanto, é a única no país. Começou com um projeto piloto e porque de facto existe aqui esta necessidade também de atender aqui a algumas necessidades de alguns homens vítimas de violência doméstica.

Nós encontramos aqui neste tipo de vitimação um bocadinho diferente e vai novamente colaborar aqui com esta questão económica que falava. Estamos a falar aqui de uns homens em que tem aqui esta vulnerabilidade também a nível económico, mas também aqui outras vulnerabilidades, como a questão social, muitas vezes também a questão da doença mental, também fruto da idade, que há alguma vulnerabilidade em termos físicos, também défice cognitivo muitas vezes associado. Portanto, estamos aqui a falar de outro tipo de características e de facto é sempre necessário, mas a necessidade acaba por ser colmatada com uma única casa e que de facto tem preenchido neste momento naquilo que é a nossa perspetiva ao nível do trabalho nesta matéria a necessidade que existe ao nível do país, ao nível da violência doméstica e também sobre a violência doméstica.

E têm casa cheia?

Por vezes sim, portanto, neste momento temos de facto a casa cheia, são 12 vagas, mas nem sempre está assim, mas na maior parte das situações ao longo dos meses sim, temos tido de facto as vagas completas.

O tipo de serviço que prestam com todas estas valências é quase caso único a nível nacional nestas respostas proporcionadas pela Caritas?

Bem, nós temos de facto, agrupamos aqui várias respostas, há semelhança também de outras estruturas, estou-me a lembrar aqui por exemplo do Distrito de Viseu, que também tem a casa abrigo aqui ao nível das vítimas de violência portadoras de doença mental, e tem também aqui o RAP, esta Resposta de Apoio Psicológico a Jovens, e está neste momento também a estruturar a equipa de assessoria aos Tribunais, não sei se já está no terreno, mas penso que sim. Portanto, todos os núcleos a nível nacional têm de facto, pelo menos aqui, esta resposta de acompanhamento de crianças e jovens, e depois muitas vezes as estruturas de acolhimento aqui associadas. Portanto, não é a única no país, somos a única de facto no país a ter a casa abrigo para homens, no fundo, sim.

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