06 mar, 2025 - 15:07 • Vasco Bertrand Franco
“O mundo precisa de paz.” Foi com esta frase que se inaugurou o debate inter-religioso do XII IWRT. Na mesa-redonda, participaram representantes das comunidades Católica, Judaica, Hindu, Evangélica e Islâmica. Todos os intervenientes, oriundos dos mais diversos contextos, partilham uma característica comum: todos, sem exceção, acreditam que a religião tem de ser um caminho “para a paz e nunca para desentendimentos.”
Foram centenas de pessoas de todo o mundo que viajaram até ao Santuário de Fátima para participar no XII International Workshops on Religious Tourism. O evento pretende contribuir para a dinamização do setor empresarial do turismo religioso, bem como para a promoção internacional de Fátima e de Portugal enquanto destino privilegiado para o turismo religioso.
O debate teve como objetivo refletir sobre o turismo religioso e como este pode ser um caminho para a paz e para a “fraternidade humana”. Nesse sentido, o primeiro a intervir foi o Padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima.
O sacerdote iniciou a sua intervenção referindo que existem muitos preconceitos na sociedade e que há pessoas que acreditam que a “diversidade de religiões é inimiga da paz, mas quando nos juntamos percebemos que isso não é verdade.” Visto que o debate estava inserido num congresso de turismo, foram constantemente evocadas razões positivas para que os fiéis de todo o mundo possam viajar e ter contacto com outras culturas e religiões, promovendo uma humanidade fraterna que se respeita e aceita as “crenças dos irmãos”.
Para o Padre Carlos Cabecinhas, “o encontro entre religiões permite o fim de preconceitos; ajuda a respeitar o outro e a sua verdade.” O reitor abordou ainda o exemplo de Fátima, onde várias religiões convivem em comunhão, afirmando que “Fátima é lugar de paz.”
De seguida, Shiv Kumar Singh, representante hindu, presidente da Associação Casa da Índia e diretor do Centro de Estudos Indianos na Universidade de Letras de Lisboa, elogiou Portugal, afirmando haver uma enorme diversidade religiosa. Kumar Singh referiu que viajar é necessário para fomentar a comunhão. O hindu recordou o Maha Kumbh Mela, uma cerimónia do hinduísmo realizada em janeiro, que reuniu “600 milhões de pessoas de todo o mundo e que permitiu uma comunhão da humanidade.”
Já Isaac Assor, ex-vice-presidente da Comunidade Judaica de Lisboa, iniciou a sua intervenção desejando as melhoras ao Papa Francisco, pois “é uma pessoa da maior importância no diálogo inter-religioso.”
O representante judaico defendeu que as viagens religiosas podem ser a melhor forma de combater os conflitos, sem deixar de reconhecer que muitas das hostilidades que se verificam pelo mundo têm origens religiosas, sendo necessário promover encontros benéficos entre fiéis de diversos credos.
Khalid Jamal, membro da Comunidade Islâmica de Lisboa, manifestou uma opinião semelhante. O representante muçulmano afirmou que “as viagens permitem trilhar jornadas de fé, diálogo e entendimento. Essa prática permite aproximar culturas e tradições diversas promovendo encontros pacíficos e enriquecedores.”
Khalid Jamal falou ainda sobre o Santuário de Fátima, afirmando que Fátima é um fenómeno que “extravasa o Cristianismo”. O muçulmano destacou que o Santuário é o “exemplo que personifica um lugar de comunhão entre vários povos e credos”. Jamal encerrou a sua intervenção dizendo que “o caminho religioso é um caminho de paz". E acrescentou: "Que possamos todos seguir viagem no caminho de paz, fraternidade e do acolhimento mútuo.”
Sandra Reis, presidente da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, afirmou que o “verdadeiro encontro acontece quando há espaço para a escuta para o diálogo e para a experiência partilhada.”
A pastora acrescentou que a paz não se constrói “de apenas grandes discursos, mas com pequenos gestos de aproximação e entendimento”. Existe, de facto, um desejo de compreender o outro e de criar laços. A paz pode ser alcançada quando experienciamos “o outro. Quando a experiência tem um rosto a proximidade com que viemos a dor do outro, a vida do outro torna-nos diferentes.”
Conhecer os outros credos, promover o diálogo inter-religioso e visitar novos locais são passos essenciais para o caminho da paz e da fraternidade humana. Só podemos respeitar aquilo que conhecemos. “A paz só se faz se nos aproximarmos do outro. O mundo precisa de paz urgentemente."