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Jubileu Voluntários

Portugal está "na cauda da Europa" do voluntariado

09 mar, 2025 - 09:00 • Henrique Cunha

No fim de semana em que decorre no Vaticano o Jubileu do Voluntário, o presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado diz que "temos que distinguir entre o que é ser voluntário e o voluntarismo". Eugénio da Fonseca admite a existência no nosso país de cerca de 1,5 milhões de pessoas "em ações regulares de voluntariado", mas garante que Portugal está "na cauda da Europa".

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Em Portugal “fala-se pouco da importância que o voluntariado tem”, afirma Eugénio Fonseca. O presidente da Confederação portuguesa do Voluntariado adianta, em entrevista à Renascença, que o nosso país “está na cauda da Europa relativamente a esta forma de participação cívica”, com cerca de 1,5 milhões de pessoas “em ações regulares de voluntariado”.

No fim de semana em que o Vaticano acolhe o Jubileu dos Voluntários, Eugénio da Fonseca sublinha a necessidade de se inverter a curva que coloca Portugal entre os países europeus que menos valorizam o voluntariado. O responsável afirma que “os voluntários produzem desenvolvimento e contribuem para um desenvolvimento mais integral” e pede que se invista mais “em ações de formação”.

O quinto grande encontro do Ano Santo deve reunir cerca de 25 mil participantes, provenientes de mais de 100 países.

A Santa Sé revelou que cerca de 15 mil peregrinos chegam da Itália e que Roma vai receber representantes de organizações de voluntariado de todo o mundo.

A Missa do domingo, na Praça de São Pedro, vai ser presidida pelo cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que vai ler a homilia preparada pelo Papa – hospitalizado desde 14 de fevereiro.

Qual é a realidade do voluntariado em Portugal?

Fala-se pouco da importância que o voluntariado tem no nosso país. Foi muito referido durante a pandemia, ajudou a resolver muitos dos problemas que nessa altura foram suscitados, mas é pouco reconhecido.

As estatísticas não dizem ao certo quantos portugueses e portuguesas estão a desenvolver esta ação de cidadania, porque é disso que se trata.

Mas o Eugénio tem uma ideia de quantos são, mais ou menos?

Sim, só na Confederação Portuguesa de Voluntariado, as confederadas representam 700 mil. A última estatística dava à volta de 600 mil, mas nós calculamos que poderão ser cerca de um milhão e meio aqueles que estão em ações regulares de voluntariado, porque além destas há muitos outros que praticam ações não regulares, mas que também são muito importantes para resolver problemas de momento.

Ainda assim estamos longe da média europeia, não é?

Sim, estamos na cauda da Europa relativamente a esta forma de participação cívica e ela está a ser cada vez mais relevante, não só no acesso ao ensino; ela está a ser muito valorizada, sobretudo no ensino superior, como também já na perceção que muitas empresas têm, na seleção que fazem também para as pessoas que querem escolher para determinadas tarefas.

Mas não se pode confundir o voluntariado com a utilização indevida de um voluntário para exercer um cargo, uma profissão?

De forma alguma. Eu digo com toda a clareza...

E isso não acontece em Portugal, por vezes?

Eu não digo que não aconteça, mas são casos muito esporádicos que resultam da má consciência de quem o faz propositadamente.

É um crime?

É isso que eu digo, eu aplico mesmo essa palavra, isso é um crime e que diz respeito a uma má consciência de quem utiliza, indevidamente, o trabalho não remunerado dos voluntários e ao excesso de generosidade e de desconhecimento dos seus deveres, dos próprios voluntários. Mas é uma questão que depende da ACT, portanto da Autoridade para as Condições de Trabalho vigiar e não a uma instituição como a Confederação Portuguesa do Voluntariado.

E a Autoridade para as Condições de Trabalho tem vigiado?

Sempre que há denúncias, com certeza que não deixa de parte.

Disse-me que estávamos na cauda da Europa, no que diz respeito ao voluntariado. Como é que invertemos esta curva se é que é necessário, do seu ponto de vista, invertê-la?

É urgente invertê-la, porque o voluntariado também tem uma componente muito importante, que muitas vezes não se dá conta dela, mas ela é evidente, ao ser-se voluntário está-se a contribuir para o reforço de uma componente do modelo político que nos rege, portanto, a democracia, numa das suas facetas nem sempre ou quase pouco efetivada, que é a dimensão participativa da democracia.

Os voluntários produzem desenvolvimento, contribuem para um desenvolvimento mais integral e, portanto, ele precisa de ser educado. Educado não digo propriamente em termos de formação académica, ela sim é preciso formação, mas também fazendo.

Existe nas escolas, já na disciplina de cidadania e desenvolvimento, mas eu gostava não só de ver o voluntariado como um currículo de uma disciplina, mas de ver ações, como já existiu em tempos, de experiências de voluntariado, porque não há dúvida que é pelo contágio do bem que outros fazem que pode levar a quem não faz, a fazer e, portanto, isto é muito importante.

E educa-se a partir da família, educa-se a partir das instituições de proximidade, porque efetivamente não é com publicidade que se faz. Eu volto ao princípio, a comunicação social tem um papel muito importante, porque nós parece que vivemos num país cinzento, num país desalentado, num país em que tudo está perdido e não é verdade.

Há muita coisa boa a acontecer neste país. Os meios de comunicação social é que não dão visibilidade a isso de bom que está a acontecer. Mas nós somos testemunhas desses acontecimentos.

E a cultura de solidariedade no nosso país também não ajuda?

É isso. Tenho dito muitas vezes, nós somos um povo muito generoso, nas ações que se responde perante tragédias, nós somos muito prontos a responder e às vezes até de forma descoordenada, que leva a que essa descoordenação gere determinados problemas. Somos muito, muito generosos, mas temos uma dificuldade em nos comprometermos, porque o voluntariado exige um compromisso e é essa falta de compromisso que temos que leva a que tenhamos uma baixa taxa de voluntariado em Portugal. É falta de compromisso que leva a esta falta de cultura, de uma solidariedade que exige um compromisso permanente e não apenas ações esporádicas de voluntariado, que têm que ser também valorizadas. Agora temos que distinguir entre o que é ser voluntário e o voluntarismo, não é?

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