19 mar, 2025 - 13:59 • Henrique Cunha
Cardeal Américo Aguiar apela aos seus diocesanos "que se envolvam nos partidos, que se envolvam nos movimentos". Em declarações à Renascença, o bispo de Setúbal reforça a preocupação manifestada na nota episcopal que publicou esta quarta-feira sobre a participação política e os atos eleitorais que se aproximam. Américo Aguiar diz que os católicos não podem "perder por falta de comparência".
“Estes tempos de incerteza e de algum pântano que temos vivido nos últimos tempos obrigam-nos a todos, todos, todos, todos os homens e mulheres que estão envolvidos na política ativa, a Igreja, a cultura, o desporto, todas as realidades da sociedade portuguesa devem despertar para a urgência de estarmos todos, todos, todos atentos àquilo que é a realidade última da vida do nosso país”, afirma.
O bispo diz que “corremos riscos com os tempos que vamos vivendo”, e sublinha que não está “a falar destes meses, nem deste ano”, mas sim “de uma via sacra que já se prolonga há demasiado tempo, com incidentes e acidentes”, e defende ser “urgente que todos os cidadãos despertem para a necessidade de conhecermos a fundo aquilo que são as propostas, aquilo que são os programas, aquilo a que cada um que se apresenta ao que vem”.
D. Américo refere ser tempo de acabar com as queixas “no café, nas redes sociais, com pronunciamentos por vezes violentos e desrespeitadores”, até porque, depois “na hora da verdade não vemos empenho”. “É por isso que apelo aos meus concidadãos, e o apelo aos meus diocesanos, que se envolvam nos partidos, que se envolvam nos movimentos, que sejam também eles próprios candidatos e que sejam também eles próprios a propor soluções para aquilo que são os problemas das comunidades, porque nós não nos podemos queixar que as soluções não encarnam o Evangelho quando nós perdemos por falta de comparência em tantas e tantas circunstâncias”, reforça.
Militante do PSD desde a juventude, Miguel Macedo (...)
O bispo de Setúbal receia a possibilidade de uma onda populista invadir o país, afirmando que apenas "não sabe a data" da sua chegada. “Eu só não sei qual é a data, porque não é um fenómeno de Portugal, é fenómeno europeu, é um fenómeno mundial. Em Portugal, as coisas boas e más parecem que demoram algum tempo a chegar, mas acabam por chegar, e o que eu peço é também esse discernimento e essa atenção”, refere. “Quando eu digo que não devemos única e exclusivamente avaliar os candidatos pela sua simpatia ou beleza ou pelo maior ou menor ruído ou pela menor ou maior notoriedade, é também para que as pessoas não sejamos nós eleitores muito superficiais naquilo que são os nossos critérios de escolha, porque depois só nos podemos queixar de nós próprios”, acrescenta.
Na sua nota, D. Américo Aguiar cita o Papa Francisco para afirmar que a participação deve ser feita com humildade, “sem promoção de assassinatos de caracter”, e defende que a República “dever criar mecanismos de defesa dos eleitos quando caem ou são arrastados para a lama”.
À Renascença esclarece que não está "a falar de acontecimentos destes dias", mas sim de uma figura em particular: o antigo ministro Miguel Macedo.
“Na minha mente, no meu coração e na minha pena, têm o nome e a imagem do doutor Miguel Macedo. O doutor Miguel Macedo, falecido há poucos dias, foi para mim alguém que me tocou profundamente nessa vivência. Não estou a falar de acontecimentos destes dias, nem desta semana, estou a falar de acontecimentos que já têm mais de uma década”, adianta.
“Ele foi o exemplo vivo, infelizmente agora falecido, daquilo que deve ser um político, um cidadão disponível, com características exemplares e de referência e que foi, digamos que, assassinado no seu caráter. No fim, tudo ficou em nada, mas a vida da pessoa, a vida profissional, a vida familiar, a vida pública dessa pessoa, ficou destruída, sem qualquer possibilidade de ser restabelecida ou ressarcida”, acrescenta.
“É nele que eu pensei, foi nele que eu pensei, e é nele e em tantos outros homens e mulheres eleitos de todos os partidos, que, de vez em quando, são assassinados de caráter, por razão absolutamente nenhuma, e que nós, concidadãos, vamos alimentando por isto ou por aquilo. Portanto, não há aqui qualquer tipo de identificação com causas atuais, mas pelo contrário, tem a ver com o acumular de situações que fazem sofrer os eleitos, que fazem sofrer as suas famílias, e só têm um resultado negativo para aquilo que é o futuro de Portugal e dos portugueses. Não tenho dúvida nenhuma disso”, conclui.