27 mar, 2025 - 23:37 • Henrique Cunha
O trabalho “não se esgota na compensação financeira”, defende o presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), João Pedro Tavares.
Em entrevista à Renascença, por ocasião do Congresso Nacional da ACEGE, João Pedro Tavares defende que “as empresas não sejam apenas e só geradoras de lucro”.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
Quando se despede da presidência da ACEGE, o responsável pede aos empresários que continuem a ser “construtores de esperança” e admite que a crise política que estamos a viver “cria ruído”, sendo por isso “motivo de preocupação, mas não de desmobilização”.
João Pedro Tavares sustenta que “o que o Papa diz está certo”, quando fala da economia que mata, pois “precisamos de uma economia que gera vida, que defende a dignidade das pessoas, que não agrava as injustiças sociais, que retira as pessoas da pobreza”.
É sob o signo da esperança que se vai desenvolver este congresso, inspirado certamente no tema do jubileu de 2025. Eu pergunto como é que a ACEGE pode ser construtora desta esperança?
A ACEGE pode ser construtora da esperança e é, de facto, alinhado com o jubileu a que o Papa nos convida. Primeiro é ser construtor, ter uma ação positiva, construtiva, de criação de pontes, de unidade, de maior unidade na sociedade.
E depois de esperança. E o ser da esperança não significa que seja com um otimismo infundado, mas com uma esperança fundada desde logo nos valores, nos princípios e na fé cristã e uma esperança que não engana, como diz o Papa Francisco. E isto faz-se a partir de um caráter comprometido, de uma retidão na atuação, de um compromisso para com todos, com as pessoas, com a sociedade e com a natureza e que as empresas não sejam apenas e só geradoras de lucro e não mais do que isso. E é, portanto, dessa forma que somos construtores da esperança, promotores de uma economia do bem comum.
E evitar aquela economia que mata?
Evitar a economia, e o Papa fala nisso, esta economia que mata, e que às vezes nos provoca reações impulsivas e achamos que pode ter algumas conotações políticas, mas não. O que o Papa diz é certo. Precisamos de uma economia que gera vida, que gera unidade, que aponta para o curto prazo, mas também para o médio e longo prazo, que defende a dignidade das pessoas, que é justa, no sentido de que não agrava as injustiças sociais, que retira as pessoas da pobreza, que protege a família, que protege a vida, enfim, múltiplas maneiras de levar. E temos histórias marcantes e bonitas, e por isso mesmo podemos dizer que somos mesmo os construtores da esperança, por vocação.
E quais são as grandes dificuldades ou obstáculos a esse caminho de esperança?
Desde logo o imediatismo, a pressa mata a esperança. A esperança exige paciência, a esperança exige confiança nos outros. Por isso, porque queremos uma sociedade de maior confiança, promovemos, por exemplo, os pagamentos pontuais, porque queremos uma sociedade mais justa, promovemos a erradicação da pobreza nas empresas, empresas sem pobreza…
Mas as estatísticas dizem que há cada vez mais trabalhadores pobres?
Não lhe vou dizer que há cada vez mais trabalhadores pobres, o que lhe digo é que há pobreza que não é aceitável nos tempos de hoje. Vivemos num tempo cheios de tecnologia e cheios de avanços tecnológicos e tudo, e tem que ser no caráter das pessoas que se tem que resolver o problema. O problema das guerras e o problema da pobreza e o problema das divisões e dos radicalismos assenta apenas e só no caráter das pessoas que têm de facto que mudar, e é aqui que nós queremos tocar.
E até que ponto esta nova crise política vem perturbar o caminho?
Esta crise política cria ruído, e sempre que nós temos mais ruído temos menos sinais que podemos atender, porque de facto o ruído dispersa e o ruído retira o sinal. Temos de continuar o caminho, e o pior que podíamos fazer era vitimizar-nos com a situação que estamos a viver.
É mais um motivo de preocupação para os empresários cristãos esta crise política?
Sim, claro, é um motivo de preocupação, mas não é um motivo de desmobilização. É um motivo para ir com mais força para a missão e continuar a ser construtores de esperança, porque a esperança não pode vacilar perante estes momentos. Esta esperança é uma esperança que não engana. Quando marcámos o congresso não tínhamos toda esta situação que estamos agora a viver, e, portanto, maior consciência nos traz.
E será certamente motivo de reflexão, apesar de quando foi marcado o congresso, esta crise ainda não ter sido marcada?
Sim, claro, é sempre motivo de reflexão e de aprendizagem e de construção a partir desta realidade, e é sempre assim que estamos.
Este também é o último congresso enquanto presidente da ACEGE?
É verdade, é um novo ciclo que se aproxima e a ACEGE vai ter uma nova presidente, uma nova equipa diretiva e é um momento também de grande esperança, a forma como olhamos para o futuro e como continuamos o caminho.
E qual é a mensagem que quer deixar a empresários e trabalhadores neste momento em que se despede da presidência da ACEGE?
Despeço-me da presidência da ACEGE, mas não da ACEGE, vou continuar próximo, vou continuar a servir a esta organização de empresários e gestores a nível europeu, e aquilo que eu quero transmitir é que não se demitam daquilo que vos foi entregue, da vocação que têm e de viverem por missão. O trabalho obviamente tem uma compensação financeira, mas não se esgota nessa compensação financeira e, portanto, se nós vivemos por missão, temos que ser construtores de esperança.