30 mar, 2025 - 15:53 • Lusa
Cerca de cinco mil muçulmanos, vestidos a rigor, reuniram-se este domingo de manhã na Alameda, em Lisboa, para celebrar o fim do Ramadão, um momento sagrado, que foi marcado por cânticos, oração, convívio, partilha e muitas fotografias.
O Eid al-Fitr, a celebração que assinala o fim do mês sagrado islâmico, que durante 30 dias obriga a fazer jejum entre o amanhecer e o anoitecer, começa com uma oração comunitária, realizada em mesquitas ou em espaços abertos, reunindo toda a comunidade.
Em Lisboa, onde se estima viverem cerca de 15 mil muçulmanos, estavam previstas orações para a Praça do Martim Moniz e para a Alameda, além das habituais na Mesquita Central.
Às 07h00, sob o crepúsculo do amanhecer, quando as ruas estavam ainda silenciosas e apenas o canto dos pássaros enchia o ar, algumas dezenas de vultos movimentavam-se a contraluz sobre o relvado central do Jardim da Alameda Dom Afonso Henriques, estendendo grandes lonas impermeáveis, que seriam o chão sobre o qual decorreria a oração prestes a começar.
Um bando de gaivotas sobrevoava esta agitação, que se destacava contra a luz amarelada da fonte luminosa, em frente da qual um outro grupo de muçulmanos começou a estender uma nova lona, dando início ao aglomerar de pessoas que, em pouco menos de meia hora já rondava os milhares.
Chegavam em família, em grupos ou sozinhos, a pé, de carro e de bicicleta, vindos de todos os lados, transportando os seus próprios tapetes de oração, e era evidente a alegria e a forma calorosa como se cumprimentavam e abraçavam.
No topo do relvado central foi montado um pequeno púlpito, ornado com plantas e flores, de onde o imã conduziu as orações para os milhares de fiéis sentados sobre os tapetes, que juntos formavam um grande mosaico colorido, de padrões diversos.
Milhares de sapatos aglomerados emolduravam o retângulo de relva, onde os muçulmanos se encontravam sentados e perfeitamente alinhados, escutando as orações que duas grandes colunas, uma de cada lado da Alameda, propagavam para o ar.
Maioritariamente composto por homens, mas também algumas mulheres e crianças, o grupo de fiéis distinguia-se pelo uso de indumentárias específicas para a ocasião: túnicas longas e kufi (um chapéu típico islâmico, arredondado e sem aba) para os homens, e capas longas coloridas e com apliques brilhantes ou espelhados, juntamente com o hijab (lenço que cobre a cabeça e o pescoço), para as mulheres.
Por volta das 08h30, terminada a oração, recomeçou a movimentação de corpos, a erguerem-se do chão, recolhendo e enrolando os tapetes, calçando os sapatos e reunindo-se em grupos animados para conversar, tirar fotos de grupo e muitas "selfies".
Foi também o momento de recolher os vários baldes que antes da oração circularam por entre os fiéis para recolher donativos destinados aos mais necessitados, já que a caridade desempenha um papel central nos festejos do fim do Ramadão.
"Acabou agora a oração do Eid al-Fitr. É a celebração islâmica da nossa comunidade muçulmana. Juntamo-nos todos para celebrar. Hoje rezo a Alá para toda a gente ser feliz", disse à Lusa Akiful Hasam, um jovem muçulmano que se encontrava já encostado a um dos muros que ladeiam a boca do metro, com o seu tapete enrolado e guardado dentro de um saco de plástico.
Para Akiful Hasam, residente em Portugal há alguns anos, este é um país "bom para o islamismo", onde não sente obstáculos à sua liberdade religiosa e à sua "celebração", embora reconheça que os espaços existentes são já exíguos para a população residente.
A mesma ideia tem Mohammed Chowdhury, presidente da mesquita Alameda Jame Masjid, segundo o qual, a comunidade muçulmana é cada vez maior, congregando fiéis de várias partes do mundo residentes em Portugal, do Bangladesh à Índia, passando pelo Paquistão e Marrocos, entre muitos outros países.
Só na celebração de este domigo na Alameda, estima que tenham estado perto de cinco mil crentes.
"Na sexta-feira, a oração Jumu"ah teve de ser celebrada três vezes [na mesquita da Alameda], para atender a todos, porque há cada vez mais gente", contou à Lusa, considerando que se houvesse "mais mesquitas, seria mais fácil".
O Salat al-Jumu"ah é uma oração especial que decorre na sexta-feira, e é uma das mais importantes da semana para os muçulmanos, para marcar o fim do Ramadão, um momento de reflexão, gratidão e renovação espiritual para a comunidade islâmica.
"O último dia do Ramadão é marcado pelo avistamento da lua nova, dando início a um novo mês lunar, segundo o calendário islâmico. Neste último dia, em todo o mundo, estamos todos juntos em festa, ricos, pobres, refugiados, em guerra, em qualquer situação, este é um momento de festa grande", afirmou.
Às 09h30, junto à Mesquita Central de Lisboa, sede da comunidade islâmica portuguesa, em São Sebastião, uma multidão - em que se destacava muito mais a riqueza e exuberância das roupas, não só dos homens, mas sobretudo as femininas, as maquilhagens e o perfume no ar -- aglomerava-se junta às portas para entrar.
Lá dentro, alguns funcionários orientavam os caminhos a seguir e a disposição a ocupar, tentando rentabilizar e organizar o espaço de modo a acomodar o maior número possível de pessoas.
Cá fora, a polícia municipal, ia orientando o trânsito e o estacionamento, caóticas para aquela hora da manhã de um domingo.
De acordo com o vice-presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdul Razac Seco, aquele grupo procurava conseguir assistir à segunda oração, celebrada especificamente para atender a quem não conseguiu estar presente da primeira oração, conduzida às 07h30 pelo xeque David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa.
"Alguns optam por vir agora, mas muitos só conseguem assistir a esta oração por questões logísticas, ou seja, pela falta de capacidade do espaço para albergar tanta gente", especificou, à Lusa, adiantando que no final todos irão para as suas casas, fazer as suas refeições e terminar as celebrações.
Durante o mês do Ramadão, a Mesquita Central de Lisboa confecionou cerca de 2.000 refeições diárias para a quebra do jejum, ao pôr-do-sol.
O facto de o ano lunar ser mais curto que o solar explica que a cada ano a data do Ramadão se aproxime do início do ano 10 ou 11 dias. Em 2030, o Ramadão será celebrado duas vezes, no início de janeiro e no final de dezembro.
De acordo com o xeque David Munir, em Portugal, a comunidade muçulmana "já ultrapassou os 100 mil" crentes.