31 mar, 2025 - 07:00 • Ana Catarina André
O prazo estipulado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) para que as vítimas de abusos sexuais na Igreja apresentem pedidos de compensação financeira termina esta segunda-feira, dia 31 de março. Ainda assim, Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, diz que esta data “não é uma barreira estanque” e garante que “as equipas continuarão igualmente disponíveis”.
“As pessoas só têm de nos contactar, a nós Grupo VITA, à comissão diocesana ou à congregação religiosa respetiva”, diz, referindo que o VITA continuará, também, a prestar apoios de outro tipo, entre os quais psicológico e jurídico.
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De acordo com Rute Agulhas, desde que foi criado, em 2023, o VITA foi contactado por 128 pessoas. Destas, 71 pediram uma compensação financeira, sendo que a maioria não especificou qualquer montante.
“Há pessoas que querem oferecer [o dinheiro aos bombeiros]. A semana passada, houve um senhor que me disse que gostaria de o entregar a uma instituição que trabalhe com crianças ou com idosos. Há aqui esta necessidade de fazer o bem, mas não nos são referidos valores. Nós não perguntamos, mas, mesmo espontaneamente, as pessoas não o referem”, afirma a especialista.
Entre os 71 pedidos de compensação financeira, há 32 processos que estão já concluídos. “Isso significa que recolhemos toda a informação destas 32 pessoas. Agora é momento de elaboração dos pareceres”, afirma Rute Agulhas, que diz que estes documentos serão entregues, depois, à comissão que ficará responsável por definir os montantes a atribuir a cada pessoa.
De acordo com a coordenadora do Grupo VITA, os relatos de alegadas vítimas que foram considerados falsos são “muito residuais”, e a maioria das situações ocorreu há várias décadas.
“Temos apenas o caso de um adolescente. Todas as outras pessoas têm 50, 60 anos – às vezes mais”, refere a psicóloga, que voltou a sublinhar à Renascença que as vítimas que já falaram do crime de que foram alvo não têm de repetir a sua história. “As perguntas que podemos fazer são as que os protocolos de entrevista permitem, protocolos de entrevista que estão validados e que são utilizados em Portugal.” E acrescenta: “A primeira regra é que nós deixemos a pessoa falar o mais espontaneamente possível. Num segundo momento, se houver algum tipo de informação vaga, omissa ou confusa, e que não se consiga perceber exatamente o que se passou, aí sentimos necessidade de fazer perguntas de clarificação. Em momento algum, pedimos para mostrar o toque abusivo”.
Rute Agulhas adianta, ainda, que houve um caso em que a alegada vítima relatou apenas que houve “um suspeito que a tocou”. “Naturalmente, não sei onde é que tocou”, considera a coordenadora do VITA, que acrescente que “o segundo grupo que vai atribuir os montantes não vai falar com as pessoas e vai basear-se apenas nos pareceres que tiver”.
“Se o parecer que receber for de que aquela pessoa foi tocada, mas não se percebe onde foi tocada, a frequência com que foi tocada, qual a natureza daquele toque, o segundo grupo pode com alguma legitimidade pensar que pode até nem haver lugar a compensação nenhuma porque nem se consegue perceber se houve ali uma situação sexualmente abusiva”.
Desde a criação do Grupo VITA, Rute Agulhas considera que as ações de prevenção e formação realizadas na Igreja, em escolas e paróquias, por exemplo, têm levado a mudanças que contribuem para maior proteção das crianças.
“Quando um colégio me diz que vai substituir todas as portas por portas vidro, é algo que há dois anos ou há cinco era impensável. Hoje, faz todo o sentido, porque há uma reflexão a esse nível”, diz a especialista, destacando também os códigos de conduta e os regulamentos implementados nas diferentes estruturas eclesiais.
A psicóloga garante ainda que desde que o Grupo Vita foi criado, a Igreja não lhe negou qualquer pedido. “Em momento algum me foi dito para não ir por ali, para repensar alguma coisa, mesmo em termos de custos. Por exemplo, estamos a desenvolver um jogo digital que vai ser apresentado em breve, um programa de prevenção primária que tem um conjunto de custos associados. Em momento algum, foi questionada a pertinência daquele gasto, daquele investimento.”