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Perseguição religiosa

Simon Ayogu, padre nigeriano: "Já não se pode ir à Igreja sem medo de ser morto"

14 abr, 2025 - 12:00 • Henrique Cunha

Sacerdote nigeriano, há quase duas décadas em Portugal, relata o sofrimento dos cristãos no seu país. Em entrevista à Renascença, Simon Ayogu lembra que mais de 80% dos cristãos martirizados em todo o mundo são da Nigéria e pede que a comunidade internacional desperte para o problema.

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Mensagem do Padre Simon Ayogu
Veja o testemunho do Padre Simon Ayogu para quem “o sangue dos mártires continua a ser a semente da fé".

"Já não se pode ir à Igreja sem medo de ser morto". Esta é a realidade da Nigéria, que lidera a lista de países onde os cristãos mais risco correm de ser assassinados por causa da fé.

O padre Simon Ayogu, nigeriano a viver em Portugal há quase duas décadas, descreve, em entrevista à Renascença, o ambiente de enorme dificuldade da Igreja Católica naquele país africano.

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O sacerdote espiritano, atualmente ao serviço da arquidiocese de Braga, diz que "a Nigéria está sobre ataque".

“É um país que eu amo muito, porque mudou as condições para ser o cristão que eu sou hoje. Neste país, que tem estas condições todas, infelizmente também, temos tido nos últimos anos uma situação que nos desagrada. Uma situação que faz com que as pessoas não possam ser o que são em termos da sua vida de fé, em tranquilidade. Hoje em dia, já não se pode ir à igreja sem medo de ser atacado, aliás, ser morto. Já houve muitas pessoas que foram à missa e não voltaram”, revela.

O sacerdote diz que o cenário descrito “deixa mal o mundo inteiro”, porque “a prática da fé na Igreja Católica, especialmente na Nigéria, está dependente desta insegurança que tem vindo a caracterizar a nossa forma de viver no país”.

O sacerdote não gosta de usar as estatísticas, mas sublinha que quase 90% dos cristãos martirizados no mundo inteiro são da Nigéria. E chega a descrever o sofrimento na primeira pessoa, porque “um cunhado, o padre Silvestre Okechukwu foi morto no mês passado, no dia 5 de março”.

“Estávamo-nos a preparar para ir à Missa das Cinzas quando recebemos a mensagem de que alguém que passou por nós, alguém que nós conhecemos bem, foi morto só porque estava na Igreja”, relata.

“É verdade, eu prefiro não falar de estatísticas porque isso por vezes cria confusão, mas também não podemos esquecer que quase 90% dos cristãos martirizados no mundo inteiro são de Nigéria”, acrescenta.

O que acontece na Nigéria "tem consequências globais"

Ainda assim, o padre Simon afirma que, “mais do que contar o número dos casos, nós temos que nos debruçar sobre o assunto e tentarmos procurar soluções, não só locais, mas globais, porque o que está acontecendo na Nigéria hoje tem consequências globais”.

”O que está a acontecer vai fazer com que algumas pessoas queiram fugir desta situação e isto vai ter outras complicações em termos de imigração forçada. É por isso que, em vez de perdermos tempo com as estatísticas, vamos gastar o tempo e a energia em tentar solucionar uma questão que já se compreendeu tem implicações gerais. Por isso, peço que os jornalistas deem a sua voz, não só para divulgar o problema, mas também na procura de uma solução viável para esta situação."

Apesar dos números, das dificuldades, das perseguições, o padre Simon garante que não está em causa a presença da Igreja na Nigéria. O sacerdote assegura que "a Igreja Católica na Nigéria é das que mais cresce a nível mundial", afirmando que “uma Igreja perseguida é uma Igreja forte".

"E a Igreja Católica na Nigéria é das que mais cresce a nível mundial, sendo que a vida do católico na Nigéria está bem visível”, acrescenta.

Neste tempo de Páscoa, o padre Simon lembra que a "Igreja é a luz" que ilumina "o coração de todos aqueles que sofrem por serem vítimas de perseguição".

“Eu quero que esta Páscoa que vamos viver seja um momento em que a luz de Cristo ilumina os nossos caminhos e aquece os nossos corações para podermos avançar sem medo em direção àqueles que veem contra nós. Só dessa forma não nos deixar ficar adormecidos perante esta inconstância em que uma pessoa sai de sua casa sem ter a certeza de que volta, ou não”, reforça.

O testemunho do padre Simon Ayogu para quem “o sangue dos mártires continua a ser a semente da fé".

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