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Francisco e as religiões. Uma "cultura do encontro"

21 abr, 2025 - 22:55 • Ângela Roque

A defesa da paz mundial foi uma marca do pontificado do Papa Francisco, que promoveu a aproximação às igrejas cristãs e a todas as religiões. Considerava o diálogo inter-religioso um “caminho sem retorno” e “um dever para os cristãos”.

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A “cultura do encontro”, de que o Papa Francisco falou tantas vezes, foi sempre cultivada com gestos de proximidade e amizade com os líderes das diferentes denominações cristãs.

Logo em junho de 2013, três meses após a sua eleição, encontrou-se com o arcebispo de Cantuária. No ano seguinte reuniu-se, na Turquia, com o Patriarca Ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, e em 2016, em Cuba, protagonizou o primeiro encontro de um Papa com o Patriarca de Moscovo. Francisco e Kirill assinaram, então, uma declaração conjunta a apelar à paz na Síria e no Iraque, e consideraram os cristãos perseguidos como “mártires do nosso tempo”.

A guerra na Ucrânia, em 2022, viria no entanto a arrefecer as relações entre ambos, por causa do apoio de Kirill ao regime russo. “Não somos clérigos do Estado”, afirmou o Papa, que defendeu repetidamente que as religiões nunca podem querer a guerra.

Em outubro de 2016, numa deslocação histórica, o Papa Francisco foi à Suécia para assinalar os 500 anos da reforma protestante. Em 2018 peregrinou a Genebra, na Suíça, pelos 70 anos da fundação do Conselho Ecuménico de Igrejas.

Várias das suas viagens pastorais tiveram objetivos ecuménicos, como a que fez em 2013 à República Centro Africana, onde abriu o Ano Santo da Misericórdia, ou a que o levou, em 2023, ao Sudão do Sul.

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“Haverá sempre resistência a isto, em toda a parte, mas temos de seguir em frente com coragem", disse em junho de 2024, quando recebeu no Vaticano uma delegação do Patriarcado de Constantinopla.

“Numa época em que muitos homens e mulheres são prisioneiros do medo do futuro, as nossas Igrejas têm a missão de anunciar sempre Jesus Cristo ‘nossa esperança’, em todos os lugares e a todos", afirmou Francisco, congratulando-se com a preparação conjunta que estava a ser feita, com o Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos para a comemoração, em 2025, dos 1700 anos do Concílio de Niceia – o primeiro concílio ecuménico, num Ano Jubilar na Igreja católica, dedicado precisamente à esperança.

Habituado que estava, na Argentina, a dialogar com judeus e muçulmanos – chegou a ter um programa de rádio –, como Papa teve inúmeros gestos para promover a aproximação às outras religiões monoteístas. Considerava o diálogo inter-religioso um “caminho sem retorno” e “um dever para os cristãos”, e que “com a ajuda de Deus é possível construir um mundo de paz”.

Particularmente relevante foi a assinatura, em 2019, com o imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyib, de um documento conjunto sobre “a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum”, onde ambos consideraram que uma das causas da crise do mundo moderno é o afastamento dos valores religiosos e o predomínio do individualismo e das filosofias materialistas, que divinizam o homem e desprezam o transcendente.

A causa da paz foi constante nas suas intervenções e documentos, num esforço contínuo para mostrar que economia, ambiente, pobreza, saúde, tudo se interliga – como viria a provar a pandemia de Covid 19, que mostrou que “ninguém se salva sozinho”.

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