Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Morte Papa Francisco

"O próximo tem de ser igual ou melhor", ouve-se na Serafina, o bairro onde o Papa pediu aos jovens para não desanimarem

21 abr, 2025 - 18:18 • Alexandre Abrantes Neves

Francisco passou por estas ruas na JMJ em 2023 e pediu que "ninguém desanimasse" perante os problemas sociais. Quase dois anos depois, quem lá vive lamenta a falta de atenção dada ao bairro, depois da visita do Papa - mas agradecem a Francisco o exemplo que ali deixou. "As pessoas sentiram-se lembradas", recordam.

A+ / A-
SEG ALEXANDRE SERAFINA OK D21
Ouça aqui a reportagem. No Bairro da Serafina, os fiéis recordam o momento "especial" de quando o Papa visitou o bairro em agosto de 2023. Foto: Ricardo Fortunato/RR

A chuva afastou quase toda a gente da rua, mas, mesmo ao lado da igreja, um café não ignora o acontecimento do dia. Dos altifalantes na esplanada, ouvem-se emissões de rádio, com reações políticas à morta de uma "voz corajosa". Lá dentro, as televisões passam imagens em direto da Praça de São Pedro do Vaticano, intercaladas com fotografias do homem que passou por estas ruas, em agosto de 2023. Jorge Mario Bergoglio – Papa Francisco, para o mundo.

“Escolher um bairro como a Bairro da Serafina é... é verdadeiramente especial”. Tânia Pereira trabalha neste café no Bairro da Serafina, onde nasceu e vive há 38 anos. Conhece o bairro como a palma da mão. Por isso, as suas palavras – e as lágrimas tímidas que lhe escorrem pelo rosto – servem provavelmente de voz às centenas de católicos que aqui vivem. “Acho que as pessoas sentiram que eram lembradas, de alguma forma”.

Era junho de 2023 quando a agenda do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude surpreendeu e se soube que o Santo Padre ia visitar o Bairro da Serafina. A 4 de agosto, lá estava o Santo Padre, no auditório do centro paroquial, a agradecer a coragem de quem tem lutado pela inclusão social daquele bairro.

Nessa sala, estava Tânia Pereira, mas também Margarida Ferreira. Foi acompanhada pelo filho, agora com sete anos, e que sofre de paralisia cerebral. Naquele dia, viveu um dos momentos mais especiais da sua vida.

“Fiquei muito feliz quando ele tocou no meu filho. O Papa largou a mão dele e, depois, o meu filho fez um gesto de novo com a mão, como se fosse à procura da mão dele. E ele, por norma, não tem essas reações. Foi especial”, recorda, num ritmo lento, de quem vai misturando palavras e sorrisos.

Cá fora, a euforia que se sentiu é inesquecível por quem andou naquelas ruas – e, no momento em que o Papa Francisco morre, são essas memórias que ficam, até para quem anda afastado da paróquia.

“Sou crente, mas não vou muito à Igreja. Mas, para o dinamismo, que é a imagem de Deus e a Igreja, ele foi uma boa pessoa. E o próximo tem de ser igual ou melhor”, assinala à Renascença João, natural da Serafina e com 26 anos.

Fala connosco à porta do prédio onde vive e onde, nas alturas em que não arranja trabalho, convive diariamente com os amigos e vizinhos. Aqui, a vida do bairro é assunto a toda a hora: a falta de habitação, as várias correntezas de barracas, o tráfico de droga, as relações tensas com as autoridades.

Papa na Serafina: "Se desanimarem, tomem um copo de água e sigam em frente"
Papa na Serafina: "Se desanimarem, tomem um copo de água e sigam em frente"

Nas semanas que antecederam a visita do Papa, aquelas ruas “pareciam outras, até estavam limpas”. Mas foi sol de pouca dura.

“Só foi mesmo aquele dia. Veio aqui o Papa, veio a televisão. Mas depois o Papa foi embora, a televisão foi embora e voltou tudo: a degradação, o dia-a-dia de um bairro, de te levantares e tentares fazer o melhor de alguma forma”.

Esse compromisso é geral – que o diga um jovem de 18 anos que vai andando de bicicleta à chuva e que, esta semana, vai até ao centro de emprego inscrever-se em cursos de formação. É uma luta diária por um futuro melhor, sob a égide das palavras do Papa, aqui deixadas em agosto de 2023: “Sigam em frente e não desanimem. E se desanimarem, bebam um copo de água e sigam em frente!

Saiba Mais
Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+