26 abr, 2025 - 07:49 • Lusa
O cónego português António Saldanha, da Basílica romana de Santa Maria Maior, será um dos poucos a acompanhar o sepultamento privado do Papa, cujo caixão guarda uma nota biográfica oficial que refere o seu combate aos abusos sexuais.
"Para mim este é um capítulo da incontornável história", disse à Ecclesia o sacerdote, que integra o capítulo que gere Santa Maria Maior, uma das quatro basílicas papais e aquela que Francisco escolheu para ser a sua sepultura final.
"Como português e como padre, sinto-me particularmente feliz, embora a circunstância seja a de acompanhar os últimos atos públicos das cerimónias fúnebres do Papa Francisco", explicou o sacerdote açoriano do Faial.
António Saldanha recordou a devoção mariana de Francisco, salientando que, "antes de ser Papa, já visitava a Basílica na qualidade de bispo, também na qualidade de sacerdote e de jesuíta".
"É natural que um latino seja devoto a Nossa Senhora, por razões históricas, por razões ligadas também à tradição da evangelização naquele contexto. Portanto, penso que é um epílogo muito feliz, de toda uma série de atos, de momentos, que ele viveu naquela basílica", que visitou 126 vezes, na qualidade de Papa.
O caixão foi selado na sexta-feira à noite e no seu interior foi colocado um documento oficial, que conta a sua história de Francisco, validada pela Santa Sé e que é uma tradição do Vaticano para deixar às gerações futuras o perfil do pontífice.
A nota biográfica, o "Rogito", incluiu o percurso de Jorge Mario Bergoglio, desde Buenos Aires, e deu destaque ao seu pontificado.
O Papa "tornou mais severa a legislação relativa aos crimes cometidos por representantes do clero contra menores ou pessoas vulneráveis", refere a nota, onde se pode ler que "Francisco deixou a todos um testemunho admirável de humanidade, de vida santa e de paternidade universal".
Conforme a tradição, a acompanhar o rolo com a nota biográfica foi colocado um saco de moedas e medalhas cunhadas durante o pontificado, tendo sido depois tudo selado com o selo do Departamento das Celebrações Litúrgicas.
Bergoglio "foi um pastor simples e muito amado na sua arquidiocese, que percorria de um lado a outro, mesmo no metro e nos autocarros", morava num "apartamento e preparava o seu jantar sozinho, porque se sentia uma pessoa comum", pode ler-se no documento.
Após a eleição, destaca a nota, Francisco optou por viver na casa de Santa Marta "porque não podia prescindir do contacto com as pessoas" e tinha o hábito de ir "às prisões, aos centros de acolhimento para deficientes ou toxicodependentes".
No diálogo inter-religioso, o Vaticano salienta que Francisco "exerceu o ministério petrino com incansável dedicação ao diálogo com os muçulmanos e com os representantes de outras religiões, convocando-os por vezes para encontros de oração e assinando declarações conjuntas em favor da concórdia entre os membros de diferentes credos".
A pandemia também não é esquecida e o momento em que "quis rezar sozinho na Praça de São Pedro, cujo colunata simbolicamente abraçava Roma e o mundo, pela humanidade amedrontada e ferida pela doença desconhecida".
Sobre a "guerra mundial aos bocados" que referiu ao longo do seu pontificado, a nota evoca os seus "numerosos apelos à paz" e a condenação dos conflitos "em vários países, especialmente na Ucrânia, mas também na Palestina, Israel, Líbano e Mianmar".