27 abr, 2025 - 16:26 • André Rodrigues , enviado especial ao Vaticano
O embaixador da Palestina junto da Santa Sé espera que o sucessor de Francisco “preserve o seu legado” e continue a apelar para que “parem esta guerra contra o nosso povo e a escalada de violência na Cisjordânia”.
Em entrevista à Renascença, Issa Kassissieh lamenta a “perda para a Humanidade” que a morte de Francisco representa.
“Estamos todos tristes, porque ele estava próximo das pessoas marginalizadas, dos pobres, dos oprimidos como nós, o povo palestiniano. Ele ouviu a voz e o choro das nossas crianças e das nossas mães. E rezou por elas. Pediu o fim da guerra, porque considerava a guerra uma derrota para a Humanidade. E espero que outros venham a ecoar as suas palavras… embora cada um tenha o seu próprio estilo”, acrescenta o diplomata.
Para Issa Kassessieh, o Papa começou desde o início do seu pontificado a sua preocupação com o conflito na Terra Santa e recorda três momentos que o marcaram.
Em 2014, ao acompanhar Francisco na visita a Belém, o diplomata palestiniano recorda o momento em que o Papa se deteve diante do denominado “Muro da Segregação”, que cerca a Cisjordânia.
“No caminho para a Praça da Manjedoura, Francisco viu aquele muro horrível. Pediu então ao motorista para parar. Saiu do carro, pôs a mão sobre o muro e rezou pela construção de pontes e não de muros de ódio. Ele compreendeu que aquele muro separava, pela primeira vez na história do Cristianismo, as Igrejas da Natividade e do Santo Sepulcro. Foi um momento especial”, lembra ainda o chefe da representação diplomática palestiniana junto do Vaticano.
Renascença em Roma
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Outro dos momentos marcantes, prossegue Kassissieh, “foi a oração pela paz, que teve lugar no coração da Cidade do Vaticano, oito dias depois da passagem por Belém, com a presença do nosso Presidente Mahmoud Abbas”.
Finalmente, o embaixador recorda “a canonização de duas irmãs palestinianas em 2015, mas, também, o seu encontro com famílias de Gaza… tudo isso foi muito tocante para ele”.
Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em outubro de 2023, Francisco ligou cerca de 600 vezes para a paróquia de Gaza, “telefonava todos os dias, todas as noites. Sabia os nomes das crianças, animava-as e dava-lhes esperança”.
“Quem poderá esquecer as suas ações? Por causa dele, os habitantes de Gaza, os cristãos de lá, tinham esperança. E continuam a ter”, assegura.
Sobre o reconhecimento de um Estado da Palestina, o embaixador Issa Kassissieh desafia o Estado português para que se posicione “ao nível da consciência de Sua Santidade”.
“Nós assinamos um acordo abrangente com a Santa Sé. E, nesse acordo, o Vaticano reconheceu o Estado da Palestina com as fronteiras de 1967. Francisco assumiu uma posição moral. E nós gostaríamos que Portugal, sendo um país católico, ecoasse essa posição, reconhecendo ao Estado da Palestina, o direito à autodeterminação”, conclui.