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Mário de Carvalho e Jorge Silva Melo, a escrita e o teatro à conversa

03 jun, 2016 - 23:07 • Maria João Costa

Na última edição da temporada do programa Ensaio Geral gravado ao vivo na Livraria Ferin, numa parceria Renascença, Booktailors e Ferin foram nossos convidados o escritor Mário de Carvalho e o encenador Jorge Silva Melo.

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“O texto surge debaixo dos dedos” confessa Mário de Carvalho ao fim de mais de 30 anos de carreira literária e somados os mais importantes prémios da escrita. Jorge Silva Melo fala da encenação como uma arte de escolhas onde se segue a música dos outros. Os dois criadores do teatro e da escrita encontraram-se no palco da rádio no programa Ensaio Geral gravado ao vivo na Livraria Ferin, numa parceria com a Booktailors.

Sobre a escrita, Mário de Carvalho, autor de “Um Deus Passeando sobre a Brisa da Tarde”, começou por falar da importância das primeiras frases dos livros. Para o escritor as primeiras palavras “devem ser pensadas cautelosamente”, porque podem “definir um certo tom e provocar o interesse do leitor”. O autor, que continua a ser surpreendido pela sua própria escrita, diz que no texto que “surge debaixo dos dedos” ao computador, “há coisas misteriosas que não saberia identificar”. Para a sua escrita muito contribuem o estar atento aos pormenores. Para Mário de Carvalho há “conversas que são apanhadas, gestos, tiques, objectos” que depois surgem no “tal laboratório interior quando menos se espera”. O autor conclui que já se habituou “a ter a paciência de esperar”, porque “há desfechos que não são encontrados, pontas que não estão atadas”.

Sobre a arte de encenar, questionado sobre se é uma profissão semelhante à de um maestro de orquestra ou a um deus, Jorge Silva Melo é rápido em responder: é “ser-humano”. “Deus está muito bem lá em cima e governa-nos a todos e está muito bem, mas os seres-humanos erram. Deus não pode errar. O que é bom na actividade de encenador é seguir a música do outro, deixar que a orquestra toque a valsa e a gente ir dançando com quem podemos”, explica o director artístico dos Artistas Unidos.

O encenador que com Luís Miguel Cintra criou a Cornucópia é também autor de vários livros. Para si escrever e encenar são duas faces da mesma moeda. É estar “sempre com a palavra debaixo da boca”. Mário de Carvalho que prefere escrever noite fora, com o silêncio da madrugada diz que hoje em dia “tudo concorre na vida para que uma pessoa não escreva” porque “somos rodeados pelas mais pequenas solicitações”, explica o autor, que conclui “uma tarde ao computador é uma vitória”.

Questionado sobre a actual política cultural, Mário de Carvalho fala num “certo abaixamento de nível cultural e que certa comunicação social tem muita responsabilidade nisso”. Falando na desvalorização de tudo o que sejam artes e letras, o autor fala na degradação do ambiente cultural quando as televisões preferem dar voz aos grandes “capitalistas”. Para o escritor de “Quem disser o contrário é porque tem razão”, são os intelectuais que têm dado alma a Portugal. “Este país sem os escritores, sem os encenadores, sem as gentes do teatro e que cria, era um sítio, uma amálgama de gente” e conclui que “talvez fosse um país onde não valesse a pena viver”.

Sobre a actual política cultural, Jorge Silva Melo afirmou hoje ter um grande inimigo que é a palavra “festa”. Para o autor do documentário sobre Álvaro Lapa, a actividade de ler passou a ser “um bailarico”. Afirmações que pode ouvir em 30 minutos em podcast no site da Renascença.

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