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Dia Mundial do Gato

Gato. Amigo dos humanos ou interesseiro cujas fezes criam empreendedores?

08 ago, 2018 - 11:00

Para marcar o Dia Mundial do Gato, celebrado esta quarta-feira, a Renascença compilou os melhores estudos – científicos ou nem tanto – que saíram nos últimos anos sobre os nossos companheiros felinos.

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A relação dos humanos com os gatos é bastante simples. No fundo, pode dizer-se que o mundo se divide em dois grupos: os que adoram e os que detestam felinos. Também há quem diga que há dois tipos de pessoas: as que gostam de cães e as que preferem gatos. No duelo canino contra felino, vale tudo como argumento. E um dos mais comuns a que os amantes de cães recorrem é que os gatos, ao contrário dos caninos, não são fiéis aos seus donos.

Essa é só uma das verdades absolutas que foram refutadas nos últimos anos pelos cientistas, a par de outras descobertas no mínimo interessantes sobre os primos distantes dos tigres e das panteras que os humanos começaram a domesticar há cerca de 4 mil anos no Egito.

Para marcar o Dia Mundial do Gato, que se celebra a 8 de agosto desde 2002, a Renascença compilou os melhores estudos sobre gatos saídos nos últimos anos.

Parasita que inspira empreendedores

Quem sabe alguma coisa sobre gravidezes saberá que as mulheres que não são imunes à toxoplasmose não devem aproximar-se das caixas de areia dos gatos durante todo o período de gestação. Isto porque um parasita presente nas fezes de gatos, o Toxoplasma gondii, pode provocar mal-formações no feto e problemas na gravidez.

O parasita não afeta apenas gestantes e bebés por nascer. Quem tem um sistema imunitário débil pode enfrentar problemas de saúde complicados quando em contacto com ele. Um exemplo é a personagem Tommy, do livro e filme "Trainspotting", um seropositivo que morre com um abcesso no cérebro após estar em contacto com o Toxoplasma gondii.

Contudo, nem tudo o que vem da toxoplasmose é mau. Esse mesmo parasita pode estar na raiz do empreendedorismo de sucesso. Pelo menos é o que aponta um estudo divulgado em julho deste ano na revista científica "Proceedings of the Royal Society B".

Uma equipa de cientistas americanos e europeus apurou que estudantes infetados com o parasita têm mais 40% de probabilidades de concluir um curso de gestão do que não-infetados e que 70% são mais empreendedores e aventureiros.

Numa outra amostra do mesmo estudo, os investigadores apuraram ainda que 80% das pessoas infetadas com o Toxoplasma gondii têm maior probabilidade de lançarem o seu próprio negócio e que, "nos países em que o nível de infeção é superior, existem menos pessoas a citar o 'medo de falhar' como justificação para não avançarem com novas iniciativas de negócio".

É caso para dizer: se quer ter sucesso no (seu) negócio, arranje um gato.

O gato é um fingidor?

Já dizia Fernando Pessoas na sua "Autopsicografia": "O poeta é um fingidor. / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / a dor que deveras sente." E ao que parece, os gatos são como os poetas.

Quem não gosta de gatos tende a diminui-los sob o argumento de que, ao contrário dos cães, são animais egoístas e demasiado independentes para se ligarem aos humanos. Mas um estudo publicado no ano passado garante que eles estão apenas a fingir que não gostam dos donos.

Investigadores da Universidade Estatal de Oregon concluíram em 2017 que os gatos não só não se estão nas tintas para nós como muitos gostam mais da companhia dos humanos do que de comer, brincar ou cheirar outros gatos.

Kristyn Vitale Shreve, que liderou o estudo, não estava satisfeita com o facto de muitos papéis científicos referirem que os gatos são difíceis de treinar, por serem teimosos, despreocupados e demasiado independentes. Para testar a veracidade desta crença, conduziu uma experiência com 55 gatos, 23 deles animais domésticos e 22 vadios que vivem em abrigos.

Cada gato foi colocado em solitária durante duas horas e meia, período durante o qual a equipa se dedicou a perceber qual a sua comida favorita (se galinha, atum ou guloseimas para gato), brinquedo favorito, cheiro favorito e tipo de interação favorita com humanos.

Não foi fácil orientar toda a população felina envolvida na experiência; dos 55 gatos, apenas 38 aprenderam a seguir as indicações. A grande conclusão é que, desse total, 19 optaram por passar a maior parte do tempo com o humano e não com a comida, o brinquedo ou o cheiro favorito.

"A ideia de que os gatos não foram domesticados há tempo suficiente para demonstrarem preferência por interações com humanos não é apoiada por estes dados", concluíram os cientistas. "Apesar de, muitas vezes, os gatos preferirem estar sozinhos, os dados deste estudo indicam precisamente o contrário."

É preciso sublinhar que este estudo foi muito limitado e que gatos diferentes, tal como as pessoas, podem ter inclinações e gostos distintos.

Os cientistas envolvidos na investigação assumem que há gatos menos inclinados a passarem tempo com humanos. Mas fazem questão de sublinhar que nem todos são assim e que, afinal de contas, há gatos que, como os cães, também podem ser os melhores amigos do Homem - simplesmente fingem que assim não é.

À conquista do mundo através dos humanos

"Por alturas da invenção da agricultura, os gatos começaram a aparecer. Terão sido provavelmente os ratos e as ratazanas a atrair os felinos selvagens. Os roedores surgiram por causa do armazenamento de grãos, possibilitado pela atividade agrícola dos humanos. Foi assim que gatos e humanos deram início à sua coexistência milenar."

Assim começa um artigo publicado pela revista norte-americana "The Atlantic" em junho de 2017, sob o sugestivo título: "Como os gatos usaram os humanos para conquistar o mundo".

Esta relação, aponta o autor do texto, tem sido benéfica para os humanos, pelo menos para aqueles que gostam da companhia de felinos. Mas também tem sido boa para os gatos enquanto espécie, aponta o estudo citado, originalmente publicado na revista "Nature Ecology & Evolution".

A investigação passou por analisar o ADN de esqueletos e múmias de gatos, alguns com 9.000 anos de existência, para perceber a evolução dos felinos desde a sua origem no Médio Oriente até ao momento em que se espalhara pelo resto do mundo. Desde a ideia do estudo à sua publicação, passaram-se dez anos, acima de tudo por causa do tempo que demorou até os cientistas encontrarem resquícios de gatos da antiguidade.

"Os resquícios de gatos são escassos", aponta Eva-Maria Geigl, paleontóloga do Instituto Jacques Monod e uma das autoras do estudo. Para contornar o problema, a sua equipa contactou museus e colecionadores pedindo-lhes para analisarem amostras de gatos cujos restos mortais foram encontrados em escavações arqueológicas.

Ao todo, acabaram por conseguir reunir ossos, dentes e pêlo de 352 gatos antigos, incluindo de múmias de gatos egípcios do Museu Britânico. E foi graças a isso que conseguiram perceber a importância da domesticação dos gatos no contexto da sua estratégia de evolução enquanto espécie.

No total, os cientistas conseguiram recolher amostras de ADN de 209 gatos, o que ajudou a perceber como é que os felinos seguiram as pisadas dos humanos, espalhando-se por todo o mundo. Outra das conclusões do estudo é que, ao contrário de outros animais, os gatos mudaram muito pouco a nível genético, ainda que eventualmente tenham passado a ser animais domésticos.

A nível comportamental os gatos até podem ter-se tornado mais tolerantes aos humanos. Mas fisicamente, mantiveram o mesmo tamanho e forma e continuaram a caçar pequenas presas.

"Os gatos sempre fizeram aquilo que nós precisamos que eles façam", aponta Leslie Lyons, geneticista de felinos da Universidade de Missouri, nos EUA. O que isto quer dizer? Que ao contrário dos cães, que os humanos tiveram de treinar para ajudarem no pastoreio ou na caça, os gatos não precisam de nós para serem bons caçadores de roedores.

E por falar em domesticação...

No ano passado, a revista "National Geographic" apontava que os gatos se autodomesticaram. Foi o que a mesma equipa do estudo acima citado apurou com base no ADN de 209 gatos da antiguidade.

Não há dúvidas de que eles são inteligentes. Menos linear é a eterna discussão sobre se são melhores que os cães enquanto companheiros de quatro patas. Ainda assim, e porque hoje é o dia deles, deixamos-lhe uma lista dos 10 benefícios científicos de ter um ou mais gatos como animais de estimação.

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