24 out, 2024 - 18:59 • Maria João Costa
Já lhe chamaram o “homem-orquestra”. Como o próprio diz, está habituado a "tocar sozinho" todos os instrumentos, mas desta vez o desafio é diferente. O músico Noiserv vai partilhar o palco do Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB) com um grupo de crianças.
O espetáculo, que tem como nome “Uma Aventura pelo Mundo dos Sentidos”, acontece no âmbito do Festival Big Bang promovido pela Fábrica das Artes, do CCB, e que habitualmente convoca artistas de renome para participarem neste evento pensado para os mais novos.
Em entrevista à Renascença, Noiserv conta que as oito crianças que vão tocar consigo têm já formação musical. São rapazes e raparigas, explica o artista que, no entanto, “aqui nem sequer irão tocar o instrumento que estão a aprender. Vão tocar outras coisas. Mas têm já uma boa dinâmica ou uma boa noção do que é o ritmo”.
Noiserv diz que se trata de uma “experiência incrível”. “Acho que as crianças têm sempre uma visão das coisas muito criativa, como eu também tenho às vezes. Parece que às vezes uma pessoa se sente demasiado criança em algumas ideias mais parvas que tem e, de repente, estou rodeado de oito pessoas que concordam com todas as ideias parvas que eu tenho!”, diz a rir.
O músico assume mesmo que esta experiência do CCB o fez “muito mais novo”, embora os mais novos, diz, “se calhar ficaram um bocadinho mais velhos com a responsabilidade que têm que ter, porque a sala do CCB é enorme!”.
É “como se fôssemos um grupo de amigos que está a tocar”, descreve Noiserv sobre o que vai acontecer em palco, onde o artista vai percorrer músicas dos seus diferentes discos, mas onde haverá outras surpresas para o público.
“Eles não entraram só dentro das músicas que eu já tocava. Também há três ou quatro momentos em que reconstruímos algumas músicas minhas e passámos a tocar todos”, conta.
“Há três músicas, por exemplo, que estão muito bonitas, em que eles estão a cantar comigo uma parte da música. E, embora algumas pessoas considerem as minhas músicas mais tristes, ou não muito animadas, de repente elas ganham um colorido com as crianças a cantar que não tinham antes.”
Neste trabalho conjunto para o concerto houve também surpresas dos pequenos músicos que vão partilhar o palco com Noiserv. O artista conta que, num dos ensaios, uma das raparigas, "a Mafalda”, disse-lhe que tinha composto uma música.
“Disse-me, olha, ontem à noite fiz uma música no piano. – Fizeste? Então mostra-me, disse-lhe, e ela, de repente, mostrou-me! É uma música muito pequenina, mas que eu achei muito bonita, e aí ela juntou-se, ao Paco, que é um outro menino, e à Noa, e eles os três vão tocar no maior piano que há no CCB, que é um Steinway gigante”, explica Noiserv.
Será um “momento só deles os três”, diz o artista, que nem sequer irá intervir nessa parte do espetáculo. “Quem fez a música foi ela! Eu dei alguma ajuda depois na estrutura, e quando é que a música poderia mudar ou não, mas é um momento deles os três”, diz.
“Teres três crianças de um tamanho mais pequeno do que o próprio piano, é assim um momento muito bonito, porque eles depois tocam de uma forma muito delicada, e portanto, este concerto tem tudo. Tem este meu poder de decisão, mas sempre que eles acharam que alguma coisa podia ser incluída, e me sugeriam, muitas delas foram incluídas”, conta Noiserv, entusiasmado com o espetáculo do CCB.
O concerto terá vídeo, “uma série de dinâmicas de luz, com umas cortinas que abrem e que fecham”, refere o artista, que relata que não será um espetáculo estático. “Nós vamos estar em cada música num sítio diferente, vamo-nos mexendo dentro deste enorme palco de um sítio para o outro e vamos tocando, música após música, estas nove músicas que todos escolhemos”, conclui.