05 fev, 2025 - 16:00 • Maria João Costa
Começamos com um “spoiler”: “Para quem não sabe a Virginia Woolf não entra” na peça, diz-nos Anabela Moreira. João Reis acrescenta: “Há pessoas que, não conhecendo o texto, acham que isto é uma peça da Virginia Woolf. Não é. É do [Edward] Albee”.
Esclarecidos quaisquer equívocos que possam surgir, a peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” sobe ao palco do Teatro Nacional São João, no Porto, de 6 a 16 de fevereiro.
Este texto clássico de Edward Albee, estreado na Broadway em 1962, conta com encenação de Simão do Vale Africano e tem como protagonistas os atores Anabela Moreira e João Reis.
Esta produção da Companhia portuense Subcutâneo – Teatro Hialurónico é feita de uma “espécie de pirotecnia verbal”, diz ao Ensaio Geral da Renascença o ator João Reis, que na peça encarna a personagem de George.
Ele é o marido de Martha, a personagem representada por Anabela Moreira. São eles que “conduzem as operações”, explica Reis. Recebem em casa outro casal numa noite em que o álcool intensifica a ação.
“Criam mundos, atacam-se”, diz João Reis, que sublinha a violência psicológica do texto. Mas, acrescenta Anabela Moreira, “ao mesmo tempo” é uma peça “divertida, ou seja, eles divertem-se nesta esgrima” verbal.
“Isto é um casal que vive junto há 23 anos e que já passou por muitas disputas e brigas. É claro que, como é uma relação de amor, ódio, isto tem muitas variáveis. Há dias em que acordam bem-dispostos e estão mais próximos um do outro. Há dias em que não se podem ver. No fundo, é o que acontece muitas vezes com a vida de muitos casais”, remata João Reis.
Os atores reconhecem que representar estas personagens não os deixa indiferentes. Há “coisas muito pesadas que lhes aconteceram”, diz-nos Anabela Moreira. A atriz diz que mesmo que, quando está a dormir, pensa na peça.
“Há uma solidão” quando a peça acaba, reconhece Anabela. “Esta peça ainda não me abandonou um segundo. Eu vou para a cama e penso. Não tem a ver com o personagem, mas tem a ver com possíveis interpretações que eu possa não estar a perceber. Ou seja, é tão rico o texto que dou por mim, às vezes, a acordar a meio da noite e a pensar”.
“Nós acabamos o espetáculo completamente esgotados”, aponta João Reis. “O tipo de energia que é convocada para fazer isto é muito intensa e difícil. Só a experiência é que nos permite chegar ao fim”, diz o ator.
“Eu não levo as personagens para casa”, refere João Reis, que reconhece, no entanto, que, quando acabou o ensaio no último dia, não “queria falar com ninguém, nem estar com ninguém”, porque, sublinha, quando se acaba “fica-se num lugar um bocadinho estranho, porque é difícil”.
O segredo, revela Anabela Moreira, está em “trabalhar toda a maturidade intelectual para compreenderes todas as dimensões” que estão no texto de Albee. Isso é, na opinião da atriz, “cansativo e estimulante ao mesmo tempo”.
A peça, que tem cenografia de Nuno Carinhas, conta também com a interpretação de Daniel Silva e Joana Africano. Depois do Teatro Nacional São João, a peça, que resulta de uma coprodução com o Centro Cultural de Belém e a Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão, será depois levada à cena nestes dois palcos.