06 fev, 2025 - 15:03
“Maurice Accompagné” é a primeira coreografia de uma trilogia com que a Companhia Paulo Ribeiro quer celebrar o cruzamento entre música e dança. Depois de já ter estreado, sobe a partir desta sexta-feira ao palco do Centro Cultural de Belém (CCB).
Em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença, o coreógrafo explica que, em palco, “temos 55 minutos de dança muito exigente e muito intensa”. O profissional, que no passado dirigiu o Ballet Gulbenkian, mostra-se crítico quanto ao atual momento da dança.
“Hoje em dia tenho a impressão de que, às vezes, a dança começa a perder-se um bocadinho. São só conceitos e deixa de se dançar”, aponta. Para este “Maurice Accompagné” contou com a ajuda do último Prémio Pessoa, o compositor Luís Tinoco.
“Quando comecei este projeto falei com o Luís [Tinoco] e fui-me aconselhando. É um projeto sobre um século de música e um século de vida. Por isso, peguei no início do século XX, depois vamos aos meados do século XX, anos 60, e terminamos nos dias de hoje”.
Para a coreografia que agora é levada à cena no CCB, de 7 a 9 de fevereiro, Paulo Ribeiro escolheu trabalhar sobre a música de Maurice Ravel, cujos 150 anos são assinalados agora, e a música do compositor português Luís de Freitas Branco, irmão do maestro Pedro de Freitas Branco, amigo e grande intérprete de Ravel.
“O Pedro [de Freitas Branco] era o maestro favorito de Ravel. Aliás, o irmão do Luís [de Freitas Branco] foi viver para Paris durante bastante tempo para dirigir as composições do Ravel”, conta Paulo Ribeiro.
Sobre as pontes que estabelece entre a música de Ravel e a de Freitas Branco neste espetáculo, o coreografo refere que se “misturam muito bem”. “Acho que há aqui uma coerência musical muito forte”, indica.
Questionado se esta trilogia nasceu mais da música do que da dança, o coreógrafo refere que “vão ambas junto”. “Normalmente eu começo com a dança, até com outras músicas já me aconteceu criar peças com uma música completamente diferente daquela que fica depois a acompanhar a peça”.
“Aqui estou mesmo a trabalhar no sentido da música, quer dizer, coreógrafo para estas músicas”, explica. Nas palavras de Paulo Ribeiro, este espetáculo tem uma “poética especial”.
“A peça começa de forma individual, com uma poética especial, depois essa poética ramifica-se e vai para um coletivo, para uma poética ativa. Pouco a pouco há uma celebração do corpo, densa, forte, efervescente. Tenho a convicção de que esta efervescência em palco, esta densidade vai chegar ao público”, diz o criador deste espetáculo.
Neste cruzamento de dança e música, até 2026 esta trilogia irá ainda apresentar mais dois espetáculos: um em 2025, com música de Louis Andriessen e de Luís Tinoco, que irá estrear uma obra para a criação de Paulo Ribeiro. Depois, em 2026, a Companhia irá dançar música de Braga Santos e de Benjamin Britten.
Para 2025, ano em que se celebram os 30 anos da Companhia Paulo Ribeiro, será apresentada uma “coprodução muito importante com o Festival de Dança de Cannes”, diz o coreógrafo.
“Eles querem que a peça seja acompanhada de orquestra ao vivo. Vai ser especial, porque tem uma composição original do Luís Tinoco e terei música também do Louis Andriessen. Será metade-metade”, explica Paulo Ribeiro.
Depois do CCB, esta primeira parte da trilogia, “Maurice Accompagné”, será levada ao palco do Teatro Carlos Alberto, no Porto, de 20 a 23 de fevereiro. A 1 de março será apresentada no Teatro Municipal de Lousã, a 4 de julho no Teatro Aveirense, a 20 de setembro em Vila Real e a 4 de outubro no Teatro Joaquim Benite, em Almada.