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Estudo

A que cheira uma múmia egípcia cinco mil anos depois? Especiarias, doces e madeira

15 fev, 2025 - 01:49 • Lusa

Investigação com alta tecnologia de análise química revela os segredos do processo de mumificação e identifica aromas característicos através de um "nariz eletrónico".

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Doces, picantes ou amadeiradas, é assim que as múmias egípcias ainda cheiram cerca de 5000 anos depois, segundo um estudo que combinava as últimas tecnologias de análise química, como um "nariz eletrónico", com a análise olfativa direta.

Um bom cheiro era essencial para os antigos egípcios durante o processo de mumificação. Os autores salientaram neste estudo que o bom cheiro estava associado à pureza dos deuses, enquanto o mau cheiro era equivalente à corrupção e putrefação de um corpo.

Atualmente os cientistas ainda descrevem o aroma dos corpos mumificados há milhares de anos como agradável, uma vez que ainda retêm as resinas vegetais aromáticas de pinheiro, cedro, zimbro, mirra ou incenso, e as ceras utilizadas para a mumificação.

A investigação sobre o cheiro das múmias egípcias antigas foi publicada na sexta-feira no Journal of the American Chemical Society e é o resultado da colaboração entre curadores do Museu Egípcio do Cairo, de onde vieram as nove múmias estudadas, e investigadores da Eslovénia, Polónia e Reino Unido, noticiou a agência Efe.

Os odores são moléculas químicas suspensas no ar que foram libertadas por uma substância. .

Os investigadores utilizaram um instrumento chamado cromatógrafo gasoso acoplado a um espetrómetro para medir e quantificar os químicos emitidos pelos nove corpos estudados, atualmente em exposição no Museu Egípcio, no Cairo.

Além disso, um grupo de "farejadores" humanos treinados descreveu os odores em termos de qualidade, intensidade e prazer.

Ao combinar estes métodos, os investigadores conseguiram determinar se o cheiro químico foi emitido pelo objeto arqueológico, por produtos de conservação, pesticidas adicionados posteriormente ou pela deterioração natural da múmia ao longo dos anos devido a fungos, bactérias e outros microrganismos.

Juntamente com a deteção de odores amadeirados, picantes e doces, a investigação também demonstrou a eficácia do aroma como um método não invasivo e não destrutivo para classificar e analisar quimicamente restos antigos.

"Embora a maioria dos estudos sobre corpos mumificados tenham sido realizados até agora em museus europeus, aqui trabalhámos em estreita colaboração com os nossos colegas egípcios para garantir que o seu conhecimento e experiência percetiva fossem representados", destacou uma das autoras do estudo, Cecilia Bembibre, investigadora da University College London.

"O cheiro dos corpos mumificados tem sido de grande interesse há anos, mas até agora não foi realizado nenhum estudo científico que combine técnicas químicas e perceção. Este é um estudo inovador", garantiu o coautor Matija Strlic, afiliado da University College London e da University of Ljubljana.

Segundo os autores, este tipo de análise química ajudará a preservar melhor o património e a manter melhor a segurança dos conservadores que dele cuidam.

Além de aprofundar o conhecimento sobre a conservação e a história material dos corpos mumificados antigos, a investigação "permitirá aos museus envolver o público não só visualmente, mas também através do olfato, criando "paisagens olfativas"".

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