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MAAT mostra um artista que acredita na “lentidão” e uma artista vídeo

25 fev, 2025 - 17:40 • Maria João Costa

Rui Moreira e Ana León têm novas exposições no MAAT Central, em Lisboa. Os dois artistas portugueses, de duas gerações diferentes, mostram a sua criação em exposições que refletem sobre o “corpo”, diz o curador João Pinharanda.

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Rui Moreira pode levar mais “mil horas” a criar um desenho. Os trabalhos que o artista português expõe a partir desta terça-feira no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, revelam um labor minucioso em quadros, na sua maioria, de grandes dimensões.

“Transe” é uma “exposição antológica” que reúne 20 anos de trabalho, indica o artista nascido no Porto. Com a curadoria de João Pinharanda esta é uma exposição que, segundo o artista, se confunde com a sua própria vida.

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“Os meus trabalhos sou eu. Não há qualquer diferença entre o meu trabalho e a minha vida. Aliás, porque eu não faço quase mais nada!”, diz Rui Moreira. Na visita de imprensa, este criador confessa que não acredita na “velocidade”, mas sim na “lentidão”.

Perante uma tela pintada em vários tons de tinta-da-china, com um sol em eclipse vermelho, Rui Moreira explica que na, sua opinião, “só na lentidão é que se pode fazer arte”.

“Tudo o que eu faço é contra o nosso tempo, o tempo que vivemos agora, do Tik-Tok e de todas essas acelerações completamente absurdas, é contra a dispersão e a favor da concentração”, refere Rui Moreira, que reclama essa lentidão também do público que irá visitar a exposição.

As 80 obras mostradas revelam três temáticas, indica o curador. João Pinharanda explica que Rui Moreira trabalha sobre “paisagem, figuração e abstração” e que, por vezes, esses temas misturam-se num mesmo trabalho.

Pinharanda explica que o título “Transe” tem a ver com o “corpo que vai para além dele próprio, que se esgota”. Rui Moreira fala também no cansaço que sente depois de entrar numa “espiral” enquanto trabalha.

Pinharanda dá como exemplo as obras de grandes dimensões desenhadas a esferográfica ou a “pincel número 1”, onde Moreira usa normalmente apenas duas cores.

Preto, branco, azul e vermelho são maioritariamente as cores de eleição do trabalho do artista. Nesta primeira exposição antológica, Moreira tem quadros inspirados na arte islâmica que descobriu sobretudo em Marrocos, mas também no cinema, na literatura e em tradições culturais como as dos Caretos de Trás-os-Montes.

Ana Léon e um “Action Man” no MAAT

Noutro andar do MAAT Central, o público poderá também ver a partir desta terça-feira a exposição “Gestos”, de León. É uma mostra de trabalhos vídeo que esta artista portuguesa, que vive em Paris, mostra pela primeira vez em Lisboa.

Na Sala do Cinzeiro, a exposição de Ana Léon, nascida em Lisboa, em 1957, reúne seis filmes de animação em que a artista usa a técnica de “stop motion” para mostrar o movimento de bonecos articulados.

Em vídeos para os quais também cria uma banda sonora, a artista usa o famoso “Action Man”, um boneco que manipula e filma em movimentos “repetitivos”. À Renascença, Ana León compara esses movimentos com a dança contemporânea.

“Um movimento quando se repete, nunca se repete da mesma maneira”, explica León, que usa na folha de sala uma frase da coreografa Pina Baush: “Repetição não é repetição, mas vai criar no espetador uma emoção”. É essa emoção que Ana León diz querer despertar nos visitantes.

João Pinharanda explica que Ana León “integrou um grupo de artistas muito conhecido dos anos 1980 com Pedro Cabrita Reis, José Pedro Croft, Pedro Calapez e Rosa Carvalho”. “Ela viajou e foi viver para Paris desde 1982 e as suas presenças em Portugal são regulares, mas espaçadas e não muito intensas”, sublinha o curador.

“Transe”, de Rui Moreira, e “Gestos”, de Ana Léon marcam o arranque da nova temporada do MAAT e vão estar patentes na Central até 2 de julho.

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