06 mar, 2025 - 11:02 • Maria João Costa
É um tema que está diariamente nas notícias e o palco, como espelho da vida, também aborda a questão. A peça “Sul” que estreia esta quinta-feira no Teatro Carlos Alberto, no Porto, tem como temática a questão da migração.
A peça protagonizada pelo ator Virgílio Castelo é escrita e encenada por Tiago Correia. Depois de ter escrito “O Salto”, sobre a emigração portuguesa clandestina no início dos anos 70, Tiago Correia cria, na perspetiva de Castelo, um díptico.
O ator encarna agora a mesma personagem, mas 50 anos depois. “No Salto, esta personagem que eu represento, o Leonel, é um passador de imigrantes que procuram ir a salto para França. Cinquenta anos depois, este mesmo homem é uma espécie de angariador de imigrantes e de controla os imigrantes que vêm para Portugal”, explica em entrevista ao Ensaio Geral, da Renascença.
Segundo Virgílio Castelo, este seu personagem continua a ser “alguém que vive da exploração do dos migrantes”. No epicentro da ação a história de Michelle, uma rapariga francesa lusodescendente, que vem a Portugal, contra a vontade da família, na tentativa de encontrar um homem que pode ser o seu avô biológico.
No meio de um drama familiar, no palco está uma questão muito atual e pertinente no entender de Virgílio Castelo. “Sempre houve migrações. No caso português, antes de irmos para França, Alemanha e para o Luxemburgo, nos anos 60, no século passado íamos para o Brasil nos anos 40 ou 50, e para África. Os Estados Unidos da América foram feitos por emigrantes”, sublinha.
“As migrações são uma espécie de consequência e necessidade”, aponta Virgílio Castelo. “O que alterou hoje o paradigma da aceitação da emigração como um fenómeno natural do contato entre os povos é a questão da religião que causa alguma rejeição que não se pôs noutras alturas”, refere.
Para o ator a “questão da integração está posta em causa”. “Há uma reivindicação de não integração. Isso causa problemas, tanto a quem não se quer integrar, como a quem quer que os outros se integrem”, indica Virgílio Castelo.
A peça “Sul” conta com interpretação de Francisca Sobrinho e Francisco Pereira de Almeida, além da personagem de Virgílio Castelo, um homem que é colocado perante um dilema.
“Até que ponto o que deve prevalecer são os princípios ou a necessidade leva a que se ponham de parte os princípios?” interroga-se Virgílio Castelo.
“Acho que isso está presente na peça e não tem uma resposta, obviamente. Julgo que põe os espectadores a pensarem sobre qual é, para cada um de nós, a atitude correta”, indica o ator.
O autor da peça, Tiago Correia, escreve na folha de sala: “Em Sul, abrem-se várias portas. No final, porém, parece não existir nenhuma saída, nenhuma moral, nenhum conforto. Somos arrebatados pela imprevisibilidade e violência do destino. Mas não. Lá no fundo, espero que não. Não é o destino. É a nossa responsabilidade”.
“Sul” está em cena noTeatro Carlos Alberto, no Porto, até 16 de março. Com cenografia de Ana Gormicho, a peça pode ser vista quarta, quinta e sábado às 19h, sexta-feira às 21h e ao domingo às 16h.