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Livro para miúdos recupera contos tradicionais portugueses

10 mar, 2025 - 23:59 • Maria João Costa

“O Gato, o Coelho e Outros Contos Tradicionais” é um livro de Adélia Carvalho, com ilustração de Anabela Dias. A autora fez uma recolha dos contos tradicionais e adaptou-os aos dias de hoje. O objetivo é incentivar os filhos a passaram tempo de qualidade com os pais.

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A primeira recolha que Adélia Carvalho fez foi mergulhar na sua memória dos contos tradicionais portugueses. A autora, que acaba de lançar “O Gato, o Coelho e Outros Contos Tradicionais” (Nuvem de Letras), juntou num livro vários contos adaptados aos dias de hoje.

Em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença, a autora explica que “a escolha partiu, primeiro, de uma recolha muito grande de vários autores”. “Fui à minha memória, à memória da minha mãe, do meu avô, mas fui também ao Leite de Vasconcelos, ao Garrett, ao Guerra Junqueira, ao Teófilo Braga, e comparei várias versões”, explica Adélia Carvalho.

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Com ilustrações de Anabela Dias, o livro tenta apresentar ao leitor uma versão de vários contos. “Existem muitas versões. Dentro dessas versões, aquelas que eu percebia que poderiam ter um ritmo interessante e que poderiam dar para, não, quem conta um conto aumenta um ponto, mas sim tirar um ponto, avancei”, indica.

“Estes contos são necessários, mas estão muito datados, têm cargas muito pesadas, por exemplo, na questão do género. Os contos, quase todos, são muito machistas e alguns racistas”, diz a autora, que trabalhou os textos para os adequar aos dias de hoje.

Adélia Carvalho dá exemplos de questões que trabalhou. “Encontrei alguns em que aparecia, muitas vezes, a ideia ‘depois apareceu um preto muito mau e muito feio’”. Questionada como se lida com questões dessas, a autora diz simplesmente: “Retira-se! Não está ali a fazer nada”.

“Não é necessário estar a recorrer à questão da raça, da cor das personagens. Quando são brancos, também não dizem um branco muito bonito ou um branco muito feio, por isso retira-se”, refere.

“Encontrei coisas muito engraçadas que até, em termos sociológicos, poderiam dar um trabalho interessante. Por exemplo, encontrei uma Rapunzel que é a ‘donzela cara de vaca’, evidentemente quando eu pula com cara de boi. Mas isso não deixa de, em termos sociológicos, mostrar o mundo rural que nós tínhamos.”

“Encontrei contos também, às vezes, com alguma violência contra os animais, isso também retirei”, explica a autora que apostou em imprimir “algumas repetições” para dar ritmo de leitura para os mais novos.

“Quando percebia onde é que estava o ritmo bom da história, pegava nisso e transformava num verso que aparecia várias vezes. Encontrei também algumas rimas que as repeti”, diz a autora que está nomeada para o Prémio Literário Astrid Lindgren.

Habituada a marcar presença nas escolas em sessões com crianças, Adélia Carvalho considera que o livro pode ser fundamental para promover os hábitos de leitura entre os mais novos e entre pais e filhos.

“Têm de se atualizar em termos de linguagem. Despojar as histórias de arcaísmos. Há muitos anos o ritmo das crianças era mais lento, tinham mais tempo para a memória e para os adultos. E também eram mais adultos”, refere.

“Estes livros são importantes nesta recolha, por um lado, para preservar a memória e nesta necessidade de voltarmos a ter tempo com o adulto e com a criança”. Numa altura em que ficou com muitos contos na gaveta por publicar, Adélia Carvalho diz que o livro de contos “permite essa proximidade” entre pais e filhos.

“Enquanto um álbum ilustrado esgota-se rapidamente, um livro de contos tem sempre ainda mais um conto. E isto vai permitir que a criança solicite ainda mais ao pai e à mãe”, explica a autora.

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