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Dia Mundial do Teatro

Carta Aberta: "Temos o apoio do público, falta o do Estado”

27 mar, 2025 - 17:33 • Maria João Costa

Paulo Dias, diretor da produtora UAU e administrador do Teatro Tivoli, denuncia “desigualdade entra a cultura gerida pelo Estado e a cultura sustentada por privados”. Numa carta aberta fala dos desafios e diz que, “hoje, abrir um centro de reuniões ou um hotel é mais fácil do que abrir um teatro”.

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Este Dia Mundial do Teatro é aproveitado por Paulo Dias, diretor da produtora UAU e administrador do Teatro Tivoli, para expor as mágoas. Numa carta aberta, este gestor cultural privado denuncia “a desigualdade entre a cultura gerida pelo Estado e a cultura sustentada por privados”.

“É cada vez mais evidente”, aponta Paulo Dias. “Enquanto as entidades públicas têm garantias financeiras, os agentes culturais independentes enfrentam diariamente o desafio de vender bilhetes, garantir a estabilidade das equipas de trabalho, manter as infraestruturas, assim como preservar edifícios históricos para continuar a trabalhar”.

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Em causa a sala do Teatro Tivoli, o equipamento do qual Paulo Dias é administrador. “Poucos sabem que os fundos do PRR não contemplam as empresas privadas que atuam no setor cultural”, sublinha o produtor.

Paulo Dias indica o “exemplo gritante” do Tivoli: “um edifício classificado como monumento de interesse público, mas sem acesso a qualquer programa de apoio para a sua manutenção”, lamenta.

“As salas necessitam de ajuda para se manterem. A programação privada deve ser autossustentável, mas sem salas não existem espetáculos”, escreve Paulo Dias nesta carta.

Mas o diretor da produtora UAU vai mais longe nos alertas. Em ano com diversos atos eleitorais, Paulo Dias considera que há “obstáculos” que se levantam.

“O próprio Estado (através de partidos, câmaras municipais e juntas de freguesia) torna-se o maior concorrente dos teatros e salas de espetáculos, ao oferecer eventos gratuitos com fins políticos”, critica, falando em concorrências desleal para com os privados que “continuam em desvantagem”.

“Hoje, abrir um centro de reuniões ou um hotel é mais fácil do que abrir um teatro”, refere este gestor cultural que acrescenta que “para obter algum tipo de apoio oficial, é preciso enquadrar a cultura como um fator económico ou turístico”.

Na sua opinião, “a única solução viável é submeter projetos culturais como parte de empreendimentos turísticos, como hotéis que, por acaso, incluam um teatro para reuniões e atividades culturais”.

Ana Zanatti: “Desenganem-se os que vêm no teatro um mero entretenimento”

Numa mensagem escrita pela autora e atriz Ana Zanatti, a Sociedade Portuguesa de Autores alerta para os que não valorizam a “incalculável importância social e cultural” do teatro.

“Desenganem-se os que vêm no teatro um mero entretenimento”, escreve Zanatti, que aponta baterias aos que “enredados em políticas fiscais e monetárias, viram as costas à arte e aos artistas, esquecendo que a cultura é a maior riqueza de um país”.

Ana Zanatti destaca neste texto o “valor inestimável da Mulher na cultura”. “Queremos ver mais textos que reflexionem sobre as questões das mulheres, mais encenadoras, mais cenógrafas, mais figurinistas, mais personagens femininas complexas e ricas de interioridade, para as nossas atrizes explorarem todo o seu potencial” e “mais mulheres na direção dos teatros”, pede.

“Numa época em que o racismo, a xenofobia, a homofobia e o sexismo estão a ressurgir com uma força alarmante, não nos podemos dar ao luxo de permanecer em silêncio”, alerta a autora.

Ana Zanatti termina a afirmar que “no Teatro luta-se pela justiça, desafia-se a cegueira e a obstinação, quer através do riso, do texto poético, do diálogo realista ou surreal”.

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