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Tecnologia

Como pode a Inteligência Artificial ajudar os idosos?

28 mar, 2025 - 16:04 • Redação

Filipa Ferraz, investigadora nas áreas de inteligência artificial e saúde, explica as potencialidades da IA para melhorar os cuidados e a qualidade de vida dos mais velhos.

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A inteligência artificial está, hoje em dia, cada vez mais integrada nos dispositivos que utilizamos diariamente.

Plataformas como o Chat GPT, Gemini e até a futura Amália, a IA portuguesa, mostram como a inteligência artificial pode ser mais que uma ferramenta de trabalho, mas também de apoio às diferentes atividades e necessidades das pessoas. Desde a medicina, ao bem-estar físico e até nos relacionamentos interpessoais, dispositivos como telemóveis ou relógios inteligentes que integrem IA podem ser um ponto de partida para a adoção da tecnologia, até mesmo entre os mais velhos.

Filipa Ferraz, investigadora de inteligência artificial (IA) e de saúde da Universidade do Minho e do Instituto Universitário de Ciências da Saúde (CESPU), dedica-se a estudar o papel e o potencial que esta tecnologia tem - e ainda pode vir a ter - na vida dos idosos.

Um exemplo disso é, por exemplo, o "diagnóstico assistido por inteligência artificial em várias doenças", principalmente "na deteção e prevenção de doenças neurodegenerativas", modos "indiretos" da tecnologia "pertencer aos idosos".

"Um modo mais direito é, por exemplo, usar smartwatches para monitorizar o ritmo cardíaco e o oxigénio no sangue. Cada vez mais há uma panóplia de dispositivos vestíveis, de sensores, que podem ser enquadrados no nosso dia-a-dia e no dia-a-dia dos idosos", explica a especialista.

Filipa Ferraz acredita que "a tecnologia faz cada vez mais parte do papel do idoso" e pode "melhorar a sua qualidade de vida" e é mesmo isso que vai debater esta sexta-feira nas primeiras Jornadas de Gerontologia e Geriatria que decorrem na Escola Superior do Vale do Ave, em Famalicão.

Adaptação é o principal desafio para os mais velhos

A investigadora reconhece, no entanto, que o processo de adaptação pode ser um desafio para esta faixa etária. "É o desconhecido, muito desconhecido para eles", diz. "O maior desafio é a aceitação e a adoção deste tipo de tecnologias por adultos sénior. Estamos a falar de pessoas que nunca tiveram, possivelmente, um telemóvel sem teclas, por exemplo, ou que nunca acederam à internet. Acaba por ser difícil passar esta barreira cultural e psicológica que eles têm relativamente a este tipo de tecnologias”, acrescenta.

“Temos idosos que estão sempre à procura do novo, de conhecer mais, de saber as novas ferramentas e de poder utilizar e experimentar. Essa é a parte boa. Também temos aqueles que não gostam de introduzir nada de novo no seu dia a dia, na sua rotina. Aí contamos com o papel dos familiares e dos cuidadores para ajudar a integrar este tipo de sistemas nas suas rotinas”.

Esta tecnologia pode ter um “papel no envelhecimento do idoso e na sua saúde e bem-estar, tal como na parte da autonomia e independência", bem como ajudar na "interação social" e no "suporte emocional”.

“A maior parte destas pessoas acaba por estar um pouco afastada dos entes queridos. Ou porque estão distantes, ou porque estão a trabalhar, os idosos acabam por ficar mais sozinhos. Os chatbots, assistentes virtuais, acabam por ajudar a combater essa solidão, por exemplo. Algumas plataformas de entretenimento e estimulação cognitiva ajudam até que não haja um declínio mental tão rápido”, assegura a especialista.

Tecnologia também ajuda quem cuida

Esta tecnologia pode também servir de apoio aos cuidadores informais e aos funcionários de lares ou centros de dia. "Podemos ter vários sensores e aplicações que podem estar no espaço ou no idoso e que avisam quando, por exemplo, de uma baixa de tensão. O dispositivo cria um alerta, por exemplo, numa aplicação no telemóvel".

Filipa acredita que o apoio desta tecnologia pode aliviar todos os que cuidam dos adultos sénior, retirando a pressão de "não terem que estar em todo o lado ao mesmo tempo, nem terem a sensação que estão a falhar, porque, em tempo real, eles conseguem ver várias pessoas ao mesmo tempo".

Esta tecnologia levanta, no entanto, preocupações relativamente à privacidade dos indivíduos que são monitorizados pela tecnologia. A investigadora reforça, por isso, a importância da segurança na proteção dos dados e da privacidade. Há, igualmente, "considerações éticas" que devem ser tidas em conta. "Esse é um desafio que já existe há muito tempo e que vai continuar a existir", assegura.

"Se estamos a falar de uma câmara de vigilância num lar, os dados terão, obrigatoriamente, de ter consentimento informado", defende, dando exemplos de formas para proteger os dados dos utentes. "Podemos anonimizar os dados, padronizar os dados, usar uma rotulagem dos dados, por exemplo. Existem algumas técnicas que já podem ser implementadas para tratar os dados sensíveis com segurança", acrescenta Filipa Ferraz.

Cenário pode mudar na próxima década

Embora a inteligência artificial ainda possa parecer uma tecnologia futurista, Filipa Ferraz acredita que, em dez anos, o cenário pode mudar.

"No contexto do nosso país acho que dez anos será o prazo para começarmos a ter esse tipo de realidade nos lares e nos hospitais", defende, mesmo que haja uma "fase problemática de aceitação e de acessibilidade". Em causa podem estar, também, os custos, mas isso também pode ser contornado com a utilização de "dispositivos mais básicos" que, com a evolução da tecnologia, "podem ser adaptados para serem usados neste tipo de abordagens".

"Claro que automatizar totalmente um lar ou uma casa não será para todos uma realidade muito próxima, mas não é impossível", admite, dando o exemplo do Japão.

"Eles já têm lares todos automatizados e robotizados e consideram que tem melhorado a qualidade de vida dos utentes e das pessoas que cuidam deles. Temos uma população mais idosa e aumentar a qualidade de vida acaba por prolongar aquela que será a vida útil de cada um de nós", diz.

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