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Cultura

Quarteto Lopes-Graça faz digressão no Brasil nos 20 anos de carreira

31 mar, 2025 - 16:28 • Lusa

O Quarteto Lopes-Graça celebra uma carreira de longevidade realçada pelo musicólogo Bernardo Mariano, "num país com muito pouca tradição de quartetos de cordas". São esperados concertos em Tomar e Lisboa.

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O Quarteto Lopes-Graça, que prepara uma digressão ao Brasil, celebra 20 anos de carreira, uma longevidade realçada pelo musicólogo Bernardo Mariano, "num país com muito pouca tradição de quartetos de cordas".

Bernardo Mariano assinou os textos que acompanham a edição do mais recente álbum do quarteto, com a "Integral da Música de Câmara de Joly Braga Santos" (2024) e, em declarações à agência Lusa, assegurou que "a longevidade do Quarteto Lopes-Graça é por si só um marco".

O investigador realçou o facto de o Quarteto ter "uma ação marcante ao nível da divulgação do repertório português existente e do repertório novo", sem deixar de lado o repertório internacional, "em gravações e concertos por todo o país e em variadas paragens no estrangeiro, o que mais acresce à sua importância".

Bernardo Mariano destacou a estabilidade da formação ao longo dos anos, em que se mantêm três fundadores - Luís Pacheco Cunha (1.º violino), Isabel Pimentel (viola d"arco) e Catherine Strynckx (violoncelo) - aos quais se junta o violinista Elliot Lawson.

O violinista Luís Pacheco Cunha reconheceu à Lusa que o quarteto se tornou "uma referência, tanto mais que em Portugal, não há um quarteto com esta longevidade". A "chama da música para quarteto tem sido mantida por nós e pelo Quarteto de Matosinhos", disse.

"Temos de certa forma procurado contribuir para o conhecimento e aprofundamento da música portuguesa, não só de concertos como em gravações", acrescentou.

O músico disse que, nestes últimos 20 anos, houve "um progresso significativo, do ponto de vista qualitativo, na formação dos músicos portugueses", sublinhando que "é um facto inalienável que Portugal se tornou um país exportador de músicos, em vez de ser um país importador, como o foi durante os últimos anos do século XX".

"Só conseguíamos ter orquestras, fosse a da Gulbenkian, a do Porto ou a Sinfónica nacional, graças a músicos estrangeiros, nomeadamente do leste europeu. Felizmente esses músicos vieram, fizeram formação e foi graças a eles e a alguns músicos nacionais que foram estudar para fora que se conseguiu elevar a formação dos instrumentistas portugueses em quase todas as áreas. A ópera está inundada de portugueses", afirmou.

Ao longo da sua carreira, o Quarteto tem encomendado obras a compositores, para estrear, mas tal não implica que estes se filiem no mesmo tipo de linguagem musical de Lopes-Graça, disse Pacheco Cunha, referindo que a escolha do compositor para nome do Quarteto foi uma "escolha afetiva".

Tanto Luís Pacheco Cunha como Isabel Pimentel conheceram Fernando Lopes-Graça (1906-1994), ao qual Cunha se referiu como "um dos grandes compositores do século XX português, ainda pouco conhecido internacionalmente".

Ao longo dos seus 20 anos de vida, também fizeram parte da formação do quarteto as violinistas Anne Victorino d"Almeida e Maria João Laginha e a violoncelista Irene Lima, entre outros músicos.

Pacheco Cunha reconheceu a dificuldade de cruzar agendas entre todos os músicos, por terem outras atividades, nomeadamente pedagógicas, mas tem sido possível graças "a uma certa ginástica e a jornadas de trabalho, "proibidas pelo sindicato", de 14 e 15 horas".

No Brasil, o quarteto vai apresentar três programas diferentes em dez salas, procurando sempre incluir pelo menos um compositor português: Lopes-Graça, mas também outros compositores contemporâneos que escreveram para o quarteto, como César Viana, e brasileiros, como Alberto Nepomuceno e Maurício Carrilho. Durante a digressão, o Quarteto Lopes-Graça também contará com o músico brasileiro Yuri Marchese, em guitarra clássica.

"Procuramos apresentar obras de compositores do nosso país e do país que visitamos".

A digressão abre no próximo dia 2 de abril, quarta-feira, em Belo Horizonte, no Conservatório Mineiro de Música. No dia seguinte será a vez do Centro Cultural Yves Alves, em Tiradentes e, no dia 4, tocam na igreja da Universidade Federal, em São João del Rey.

Nos dias 8 e 9 de abril vão estar em Goiânia, respetivamente, na Escola de Música e Artes Cénicas e na Universidade Federal.

Nos dias 10 e 11 de abril, sobem ao palco do Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, em Maceió e, no dia 12, tocam na Universidade Federal de Alagoas, nesta mesma cidade.

Nos dias 13 e 14, o Quarteto estará em Natal, onde toca, respetivamente, no Auditório Onofre Lopes e na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, encerrando a digressão na Concha Acústica da Superintendência da Universidade Federal de Pernambuco, em Belém.

No âmbito das celebrações dos 20 anos, o Quarteto também atuará nas cidades portuguesas de Tomar, na Igreja da Misericórdia, no dia 25 de setembro próximo, e em Lisboa, dois dias depois, na Biblioteca Municipal de Marvila, estando projetado um encontro com músicos que anteriormente tocaram com o Quarteto.

Luís Pacheco disse à Lusa que há um protocolo com a Câmara de Lisboa, para atividades de animação na rede de bibliotecas municipais e para realizar serviço comunitário. Um outro protocolo é com a edilidade de Tomar, cidade natal de Lopes-Graça.

O quarteto regressará aliás a ambas as cidades, em outubro, nos dias 4 (Biblioteca Municipal de Alcântara, em Lisboa) e 23 (de novo na Igreja da Misericórdia, em Tomar).

Outras atuações na agenda do quarteto para este ano passam pelo Festival Sons do Côa, no distrito da Guarda, a 11 de outubro, e pelo Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, e Teatro Municipal da Lousã, no distrito de Coimbra, em datas ainda por definir.

Bernardo Mariano afirmou que, para se conhecer o Quarteto, "é melhor ouvi-lo ao vivo", mas, em alternativa, o musicólogo citou a gravação da "Integral de Música de Câmara de Joly Braga Santos", e a "Integral de Música para Quarteto com Piano, de Lopes-Graça", com a pianista Olga Pratts (1938-2021), que trabalhou com o compositor.

"Para nós, tocar em quarteto, além de ser um trabalho, é uma experiência humana profunda", disse à Lusa o primeiro violino, Luís Pacheco Cunha. "Esta é uma mensagem para todas as pessoas que se queiram dedicar à música. Nós estamos muito tempo juntos, há muitos anos já, temos acompanhado a vida pessoal de cada um de nós, somos quase irmãos, e isso é muito gratificante, mais do que se trabalhássemos numa orquestra ou num agrupamento maior. Não há o mesmo tipo de entrecruzamento. Na verdade, o quarteto ou funciona bem do ponto de vista humano ou não funciona de ponto de vista nenhum. É fundamental o entendimento que temos que é subliminar".

Mariano recorda que o Quarteto Alban Berg "durou quase o dobro" do tempo, de 1970 a 2008, e desejou "longa vida" ao Quarteto Lopes-Graça.

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