08 abr, 2025 - 07:42 • Jaime Dantas
Todos os dias, o projeto "Porta Solidária", na Igreja do Marquês, no Porto, entrega mais de 400 refeições a utentes com carências económicas. Nos últimos anos, com a vaga de imigração para Portugal, "mais de metade dos apoiados são provenientes do Magreb, América Latina, Índia e Paquistão ", diz a responsável do projeto.
O pico de pedidos de ajuda foi atingido, no entanto, durante a pandemia, quando eram servidas 650 refeições diárias.
À Renascença, Maria da Conceição Cardoso admite que "os utentes portugueses questionam o lugar dos imigrantes" mas a resposta "é simples".
"Nós não definimos as políticas de imigração do país, apenas servimos as pessoas que têm fome e a fome dos migrantes dói no mesmo sítio que a nossa", diz.
Responsável pelas operações desta iniciativa da paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Maria da Conceição explica que todo o trabalho é levado a cabo por "voluntários regulares que assumem um turno com vários dias por semana", sendo ainda establecidos "protocolos com instituições universitárias, organizações juvenis e empresas".
Há, no entanto, "alturas mais críticas", em períodos de festas, de exames, ou no pico da gripe, onde faltam mãos para ajudar a cumprir a missão de entregar comida a quem mais precisa.
Numa nota positiva, a voluntária regista que há cada vez mais " jovens que se estão a consciencializar que têm uma missão no mundo e que podem contribuir para um mundo melhor".
"Antigamemente, pensava-se que o voluntariado era uma coisa para senhoras que não tinham mais nada que fazer", lembra.
Raquel, de 27 anos, é uma das jovens que, através da sua empresa, decidiu ajudar o próximo.
"Todos os meses fazemos uma atividade de ação social. Já tinha vindo uma vez, e decidi inscrever-me de novo. Hoje ajudo, mas no futuro posso ser eu a precisar de ajuda", conta.
Já Tiago, de 36 anos, é presença habitual na cozinha da "Porta Solidária" há oito anos. Sentiu-se "em família" desde a primeira vez que aderiu ao projeto.
"Ajudamo-nos uns aos outros, quando um está apertado a gente vai lá ajudar, tentamos sempre ajudar. Às vezes estou aqui a lavar a louça, às vezes estou na cozinha", conta.
A maior dificuldade é mesmo lidar com o número deficitário de donativos que chegam à dispensa da Igreja do Marquês. Maria da Conceição Cardoso diz mesmo que "são feitos milagres todos os dias".
"Aquilo que conseguimos fazer aqui é inexplicável, porque os recursos que temos em dinheiro não é nada. Esta é uma paróquia pobre, porque está a ficar desertificada, aqui no centro do Porto", alerta.
Tudo que é feito resulta de "muitos pequenos donativos" e do excedente de alguns establecimentos. Durante as festas "a generosidade é maior" e não falta "bacalhau nem bolo rei para dar a quem precisa", "mas as pessoas têm que comer 12 meses por ano", remata a voluntária.