09 abr, 2025 - 19:36 • Ângela Roque
Foi o alerta deixado há um ano, numa conferência, por um capelão hospitalar em Lisboa que despertou Mafalda d'Oliveira Martins para o drama dos internamentos sociais. Em declarações à Renascença, conta que nunca mais deixou de pensar no assunto. "É um tema que me deixa inquieta", diz.
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A exposição "Paragem" inclui 24 pinturas e 13 esculturas que pretendem "ajudar a refletir sobre os momentos de incerteza vividos pelos pacientes", na maioria idosos. Podem ser vistas até 29 de junho no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. A inauguração decorre esta quinta-feira, 10 de abril, entre as 18h00 e as 21h00.
O que é que a motivou a fazer esta exposição?
Depois de produzir sempre trabalhos com uma ótica social, e fazendo disso parte da minha investigação como artista, dei por este tema numa conferência, há um ano.
O orador foi o capelão de um hospital público de Lisboa, e foi um tema que me deixou logo bastante inquieta sobre o que acontece na vida das pessoas nesta altura da vida em que, aparentemente, não têm para onde ir.
É um drama e uma fragilidade muito grande, estarem numa situação que parece um impasse e não haver estruturas à volta delas que as ajudem a resolver esse impasse. E não falo apenas de estruturas do Estado, falo também das estruturas que lhes são mais próximas, dos familiares.
Alguém estar numa fase da vida em que não consegue encontrar solução para si mesma, por não ter esse tipo de retaguarda, parece-me a mim um drama suficiente para ser abordado e refletido em conjunto, e é esse o objetivo da exposição “Paragem”.
No que é que consiste a exposição?
É um convite a situarmo-nos neste espaço de interregno, de paragem de tempo, e acaba por ser uma exposição que nos envolve, através de pinturas e esculturas, aqui no Museu Nacional de História Natural e Ciência, numa sala que é dedicada exatamente ao espólio da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Portanto, já nesse ambiente que em si é dedicado à medicina, temos, de repente, pinturas e esculturas que reportam uma situação à qual a medicina aparentemente não chega.
Todas essas pinturas que são expostas são como uma espécie de várias narrativas de ações de vida, de pessoas em situação de caso social, nos hospitais, e as esculturas são as próprias pessoas presas nesse tempo.
São todas peças minhas, todas elas produzidas com este objetivo de criar um espaço de contemplação para a experiência do caso social, nós quase que entramos nessa experiência com estas pessoas que estão representadas de forma, obviamente, indireta, não são pessoas reais, mas estão representados estes pacientes.
A exposição é inaugurada esta quinta-feira. Vai poder ser vista até quando?
Estará patente até dia 29 de junho, e poderá ser visitada todos os dias da semana, à exceção das segundas-feiras, dia em que o museu está encerrado.
Esta exposição coincide com o tempo em que nos preparamos para novas eleições. Seria interessante os vários partidos visitarem a sua exposição, como alerta para este drama social?
Certamente. A exposição não tem intenções políticas, não procura criticar, nem apontar nenhuma instituição em particular, mas tem com certeza o objetivo de criar reflexão e de nos pôr todos a pensar neste tema e neste drama que é vivido muito próximo de nós, aqui na cidade de Lisboa e em vários hospitais ao longo do país. E sendo que este tema é tão premente, é absolutamente necessário qualquer político, obviamente, pensar sobre ele e tê-lo presente agora para este período que se aproxima.