13 abr, 2025 - 08:57 • Maria João Costa
É numa ilha artificial que abre este domingo a Expo Osaka. Quase 30 anos depois da Expo 98 de Lisboa, os Oceanos voltam a ser tema de uma exposição universal. Portugal está representado num pavilhão assinado pelo arquiteto japonês Kengo Kuma e que tem, no exterior, mais de 9 mil cabos marítimos pendurados
Em entrevista à Renascença, a partir de Osaka, a comissária da representação portuguesa, Joana Gomes Cardoso diz que esperam 1,2 milhões de visitantes. Mas para já não contará com a presença do primeiro-ministro ou do Presidente da República a 5 de maio, Dia de Portugal na Expo, dado o contexto de campanha eleitoral.
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O Governo será representado pela ministra da Cultura num dia marcado por uma homenagem a Amália Rodrigues e pela abertura de uma exposição dedicada ao arquiteto Siza Vieira. Na Tasca, o restaurante do pavilhão serão servidos croquetes que já deliciaram os primeiros visitantes pré-inauguração. Na exposição do pavilhão, os japoneses vão aprender mais sobre a ligação cultural com Portugal, incluindo palavras que usam todos os dias e que têm origem portuguesa.
O Pavilhão de Portugal na Expo de Osaka, por fora remete-nos para o tema dos oceanos, através das cordas usadas nos barcos. Que barco gigante é este?
Eu diria, mais do que um barco, é verdadeiramente um oceano. O arquiteto insistiu muito nesta ideia de a estrutura física ser muito minimalista. O pavilhão ganha vida e volume com estas mais de 9 mil cordas, ou melhor dizendo, estes cabos marítimos. Depois há as redes de pesca e muitos outros elementos que criam uma sensação muito fluida, com muito movimento.
Tive a oportunidade de ver, ao longo destes últimos dias, a interação com a luz, com o vento, e é, na verdade, num estilo muito japonês, uma arquitetura muito ligada à natureza e aos elementos.
Já tiveram uma espécie de dia zero, experimental. Como reagiu o público?
Tem provocado muita curiosidade e muito interesse. As pessoas passam, param quase sempre, tiram fotografias, aproximam-se e têm muita vontade de tocar nestas cordas e vêm-nos perguntar o que é isto. Mesmo com o meu japonês rudimentar, elas rapidamente percebem o que é, porque é, de facto, um pavilhão muito intuitivo.
Ao entrar no pavilhão, o que vamos encontrar lá dentro?
O visitante tem acesso imediato a uma das salas de exposição. Nesta primeira sala há um pouco sobre a história que liga Portugal ao Japão.
Tem sido muito interessante, porque a maior parte dos japoneses tem uma vaga ideia e sabe que os portugueses estiveram cá há muito tempo, mas não sabe, por exemplo, como aliás em Portugal não sabem, que palavras como pão, botão, copo, álcool, caramelo, são todas palavras portuguesas.
Tive a oportunidade de ver a reação de espanto dos japoneses quando percebem que estas palavras, que fazem parte do seu quotidiano, não são palavras antigas, eruditas, são palavras, tal como nós, do seu quotidiano, e ficam muito espantados quando sabem que estas palavras são japonesas.
E ficam quase um pouco zangados quando descobrem que a tempura também vem de Portugal. Ficam um pouco incrédulos e nós precisamos de explicar isso bem.
Tem sido muito interessante, porque a maior parte dos japoneses tem uma vaga ideia e sabe que os portugueses estiveram cá há muito tempo, mas não sabe, por exemplo, como aliás em Portugal não sabem, que palavras como pão, botão, copo, álcool, caramelo, são todas palavras portuguesas.
Em seguida, entramos numa dimensão mais contemporânea do nosso país e na nossa ligação ao mar e tudo o que estamos a fazer na conservação marítima, nas nossas plataformas, nas nossas áreas protegidas.
Isto também tem despertado bastante interesse, apesar de ser talvez até mais político, mais académico, mas as pessoas têm mostrado muito interesse, talvez porque o Japão tem também uma ligação muito próxima com o mar, sendo um arquipélago.
Depois, na segunda sala, temos uma experiência mais artística, com um vídeo imersivo. Quando as pessoas entram, pensam que estão no fundo do mar, num aquário, e reagem com muito agrado, sobretudo as crianças.
Temos um vídeo de cerca de três minutos e meio sobre as ameaças que o planeta enfrenta e que os oceanos sofrem. Eles fazem parte da chave para a luta contra as alterações climáticas e toda esta mensagem de futuro. É pedido aos países participantes para pensarem nas sociedades do futuro.
Quando saem, dão com o restaurante e com a loja e um pouco mais à frente com a nossa sala ‘Ocean Made’ para exposições temporárias, que vai ter uma programação muito intensa ao longo destes mais de 160 dias.
Já se sabe quem será o chef português que vai estar à frente do restaurante que terá o nome de Tasca?
Posso avançar que é um chef português que vive em Osaka e que, portanto, tem aqui um conhecimento muito próximo do terreno e dos produtos e dos mercados existentes. O que ele vai tentar fazer é justamente pegar nesses produtos, mas cozinhá-los da nossa forma tradicional portuguesa.
Já tivemos a experiência de alguma interação com um público convidado que assistiu a um teste que foi organizado e que os países que estavam prontos puderam participar, que foi o nosso caso - só cinco países da União Europeia é que estavam suficientemente prontos para participar
Com que iguaria tiveram sucesso?
Tivemos com os croquetes um resultado foi muito positivo!
Os japoneses são curiosos e aqueles que vêm a esta expo, sobretudo, são muito curiosos e então ficaram deliciados com os croquetes e, claro, inevitavelmente também com os pastéis de nata.
Posso avançar que é um chef português que vive em Osaka e que, portanto, tem aqui um conhecimento muito próximo do terreno e dos produtos e dos mercados existentes. O que ele vai tentar fazer é justamente pegar nesses produtos, mas cozinhá-los da nossa forma tradicional portuguesa.
Portugal tem a experiência de uma Expo 98, de Lisboa, também ela dedicada aos oceanos. Passaram quase 30 anos e continua a ser urgente falar sobre a preservação dos oceanos. Qual será o contributo nessa matéria que Portugal dará?
Foi precisamente essa é uma das razões pela qual nós escolhemos este tema ‘Oceano, Diálogo Azul’. Em primeiro lugar pela ligação histórica e marítima entre Portugal e o Japão, depois justamente por causa da Expo 98 que lançou o tema do Oceano na agenda pública internacional.
Depois também, acolhendo a Cimeira das Nações Unidas sobre o mesmo tema. Há também esta coincidência do Oceanário de Lisboa ter sido construído pelo mesmo arquiteto do Aquário de Osaka, que é também um aquário muito importante no mundo.
Há aqui muitas ligações e, depois, claro, esta visão de futuro porque os japoneses conhecem-nos, sobretudo, ou associam-nos ao passado, à nossa história em comum com o Japão.
Aqui entendemos que era importante darmos esta visão do país que somos atualmente e que somos pioneiros nesta visão para o futuro e para a luta contra as alterações climáticas.
Não é só a revolução azul, da economia azul que está em curso, a quantidade de produtos que é possível produzir, a indústria que começa a existir a partir de elementos que vêm do oceano, mas tudo isto de uma forma responsável e sustentável.
É essa mensagem otimista, mas não deixa de ter alguma urgência olharmos para o oceano como uma fonte de vida, de ciência e tecnologia, mas sempre de uma forma responsável e que nos permita combater aqueles que são agora os grandes desafios da humanidade.
Vão organizar durante a Expo Osaka alguns seminários temáticos?
Sim, a AICEP está a organizar quatro seminários que vão acontecer fora da Expo e alguns deles em Tóquio.
Vamos potenciar ao máximo esta nossa presença e as entidades que vão estar em Osaka vão também ter oportunidade de continuar, se assim o desejarem, com outros programas no Japão.
Vamos ter também entidades como universidades - Universidade Nova, Universidade Católica - todas elas com parcerias. Queremos muito aproveitar este pavilhão e todo este investimento para que o pavilhão sirva as entidades que cá vêm e que proporcionem encontros com parceiros internacionais ou japoneses, para que esta Expo tenha muita vida para além destes seis meses.
Dado o contexto de campanha para as legislativas em Portugal, mantém-se a visita do Primeiro-Ministro e do Presidente da República na Expo
No dia 5 de maio [Dia de Portugal na Expo Osaka] já sabemos que não vai permitir. Estava prevista a vinda do Primeiro-Ministro, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, do Ministro da Economia e, de facto, por causa das eleições, no dia 5 de maio, neste momento, o que está previsto é a presença da Ministra da Cultura e dos secretários de Estado da Cooperação e o da Economia.
No entanto, é possível que, em função daquilo que acontecer naturalmente no país, que um Primeiro-Ministro venha a visitar esta Expo, uma vez que ela dura até outubro.
Se houver uma definição política até lá, e imagino que todos esperamos que haja para o país, é possível que o Primeiro-Ministro do futuro queira vir à Expo Osaka e nós entendemos que seria muito importante, até porque o Japão é um país formal que dá muita importância às hierarquias.
Seria efetivamente importante termos o nosso país representado em algum momento ao mais alto nível, seja por um Primeiro-Ministro, seja pelo Presidente da República.
Diria que até outubro nada está posto fora de parte, mas no dia 5 de maio isso não vai ser possível.
O que está previsto para o Dia de Portugal na Expo Osaka?
É de facto uma programação muito rica. Presta homenagem a Amália Rodrigues que foi a artista que representou Portugal, assim como Carlos Paredes, na Expo Osaka de 1970.
Temos também uma exposição sobre Siza Vieira, que inaugura nesse dia, e teremos a mais programação a arrancar no dia 20 de maio, através de uma parceria com a Câmara Municipal do Porto. Teremos um concerto de António Pinho Vargas que vai ser o primeiro artista a estrear este Pavilhão de Portugal em Osaka.
A Joana Gomes Cardoso já tinha vivido no Japão, isso ajudou-a neste diálogo com a equipa da Expo? Que desafios encontrou no Japão de 2025?
Para mim, a nível pessoal, está a ser um imenso privilégio. Eu vivi cá em jovem, com 14 anos, e nunca imaginei de repente ver-me nesta posição. Tem sido muito gratificante, uma sensação muito especial.
O lado japonês fica também contente e surpreendido quando eu conto esta afinidade. Diria também que toda esta equipa que está aqui no terreno está a senti-lo.
O único ponto negativo, talvez, é que há um excesso de burocracia, mas que nós em Portugal também conhecemos, e, portanto, entre a burocracia portuguesa e a burocracia japonesa há aqui processos que por vezes são lentos e complicados.
De resto, a experiência tem sido toda ela muito positiva e estamos confiantes de que esta operação vai ser um sucesso.
Estes dias de teste que fizemos mostraram que há uma imensa curiosidade por parte do público japonês e não só, também os outros países têm mostrado muita curiosidade pelo nosso pavilhão e já temos muitos pedidos de visitas, muitos, até de responsáveis políticos de outros países que querem visitar o nosso pavilhão.
O único ponto negativo, talvez, é que há um excesso de burocracia, mas que nós em Portugal também conhecemos, e, portanto, entre a burocracia portuguesa e a burocracia japonesa há aqui processos que por vezes são lentos e complicados.
No dia 13 de abril, no dia de arranque da Expo, vamos ter, por exemplo, o presidente da APEX brasileira, vamos ter o vice-presidente de Timor-Leste, portanto, temos já um rol de visitas programadas e, acima de tudo, claro, o público.
No dia em que fizemos o teste, durante quatro horas tivemos dois mil visitantes. Muitos deles esperaram mais de uma hora para entrar no pavilhão e, ainda assim, saíram com um sorriso do pavilhão, portanto, ficámos satisfeitos com essa atitude.
Qual a expetativa em termos de visitantes?
Temos aqui dois níveis. Temos, um indicador imediato, que é, por exemplo, o número de visitantes. Temos um número ambicioso. Esperamos ter 1.2 milhões de visitantes, o que é bastante, mas estamos confiantes, também, por aquilo que acabei de dizer em relação ao dia do teste.
Vamos conseguir atingir e, talvez, até superar esse número, mas diria que esse é só um número quantitativo.
Temos vários indicadores, também, qualitativos que acho igualmente, ou mais importantes.
Por exemplo?
Por exemplo, o número de parcerias que vamos fazer durante estes seis meses. Há mais de um ano que há entidades portuguesas que estão a trabalhar com os seus parceiros japoneses para podermos justamente, durante esta Expo, assinar memorandos de entendimento e protocolos.
Depois, temos os indicadores das nossas relações atuais com o Japão, em várias frentes, e que vai demorar um pouco mais tempo, mas, certamente, daqui a um ano ou dois, vamos poder olhar para eles e ver se, efetivamente, há um antes e um depois desta Expo.
Estou confiante que sim, porque houve aqui muito trabalho de muitas organizações, desde logo por parte da AICEP, mas também do Turismo de Portugal e das próprias entidades parceiras que vão estar na Expo Osaka, que têm feito aqui um trabalho muito consistente, no sentido de, realmente, aproveitar esta grande oportunidade para deixar sementes, relações criadas, muito para além da vida desta Expo.