14 abr, 2025 - 22:31 • Maria João Costa
É com um sotaque brasileiro que Manjulata Sharma nos atende o telefone nos arredores de Nova Deli. Esta indiana ganhou este adocicado do português no doutoramento que fez no Brasil. O que a levou até lá foi a sua paixão e estudo da Língua Portuguesa.
Foi essa mesma paixão que a fez abraçar o projeto de traduzir para Hindi o poeta Fernando Pessoa e o seu único livro publicado em vida: "A Mensagem". A encomenda foi lhe feita pela “A Brasileira”, o famoso café do Chiado, espaço frequentado por Pessoa.
Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui
A edição, da Valor do Tempo, conta com prefácio de Luiz Fagundes Duarte e apresenta também o enquadramento que “A Brasileira” teve na vida do poeta dos heterónimos. No trabalho esta tradutora encontrou vários desafios, desde logo do ponto de vista da História de Portugal.
“As figuras históricas têm um empenho muito significativo na História de Portugal, começando por D. Afonso Henriques ou o padre António Vieira”, dá como exemplos Manjulata Sharma.
Segundo esta tradutora que já tinha alguns conhecimentos, foi preciso, contudo, aprofundá-los. “Eu sabia qualquer coisa, mas tive que estudar para captar o significado exatamente e a contribuição que cada uma dessas figuras ocupara na construção de Portugal”, diz.
No passado, Manjulata Sharma recorda que já tinha lido Pessoa e que admirava a sua poética. Mas ao abraçar este trabalho sentiu que teve de lidar com “expressões” que lhe deram algum trabalho.
Contudo, a riqueza do Hindi ajudou-a. É o terceiro idioma mais falado no mundo. Há hoje mais de 600 milhões de pessoas que dialogam nesta língua. Manjulata Sharma sublinha o facto de se tratar de uma língua “milenar”.
“Um conceito poderia ter até 20 ou 30 palavras para escolher. Graças a Deus, e com a bênção de Fernando Pessoa, acho que escolhi as palavras certas para comunicar exatamente o que ele quer comunicar aos leitores da sua poesia”, destaca a tradutora.
Esta indiana, que deixou o ensino para se dedicar inteiramente à tradução, já antes tinha traduzido para Português duas obras de José Saramago.
Com o apoio financeiro do Instituto Camões, Sharma explica-nos que “a primeira obra traduzida foi 'O Conto da Ilha Desconhecida' e a segunda obra foi 'A Viagem do Elefante’” Sobre esta última explica que foi “muito interessante”, até porque tem como personagem principal “uma figura indiana”.
Doutorada em Português, no Brasil, Manjulata Sharma também já traduziu Agostinho Neto para Hindi. Vive hoje única e exclusivamente da tradução depois de ter deixado o ensino.
“Adoro a língua portuguesa! Acho que fui portuguesa na minha anterior encarnação”, termina assim, a rir, esta entrevista.