14 abr, 2025 - 01:46 • Ricardo Vieira
Morreu o escritor e pensador Mario Vargas Llosa, galardoado como o Prémio Nobel da Literatura em 2010 e um dos rostos da explosão da literatura latino-americana, no século XX.
O escritor peruano-espanhol morreu este domingo na cidade de Lima, no Peru, aos 89 anos, anunciaram os filhos Morgana, Álvaro e Gonzalo.
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Mario Vargas Llosa, autor de obras como "Conversas n'a Catedral", "A Cidade e os Cães" ou "A Festa do Chibo", foi um dos maiores escritores contemporâneos.
"A sua partida entristecerá a sua família, os seus amigos e o seus leitores, mas esperamos que encontrem consolo, como nós, no facto de ele ter gozado uma vida longa, múltipla e frutífera, e deixa-nos uma obra que o sobreviverá. Atuaremos nas próximas horas e dias de acordo com as suas instruções”, indicam os filhos de Vargas Llosa.
Para o Nobel da Literatura 2010, "o mundo está div(...)
De acordo com a família e a última vontade do escritor, "não haverá nenhuma cerimónia pública".
"A nossa mãe, os nossos filhos e nós mesmos acreditamos que vamos ter o espaço e a privacidade para nos despedirmos dele em família e na companhia dos amigos mais próximos. Os seus restos mortais, como era sua vontade, serão cremados", adianta o comunicado.
Além de escritor, Mario Vargas Llosa era cronista e durante muitos anos manteve uma coluna quinzenal nas páginas do jornal espanhol El Pais.
Nasceu no Peru, em março de 1936, e foi completar os estudos universitários em Madrid, em 1959. O jovem Vargas Llosa teve vários trabalhos, enquanto afinava a sua escrita e o seu estilo. Foi locutor de rádio, jornalista e professor para pagar as contas.
Estreou-se com um livro de contos, "Os Chefes", aos 23 anos, a primeira pedra de uma vasta obra que culminou com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 2010.
A Academia Sueca justificou a distinção pelo seu "mapeamento de estruturas de poder e as suas imagens nítidas de resistência, rebelião e derrota do indivíduo".
Além do Nobel, Mario Vargas Llosa recebeu inúmeros prémios ao longo da vida, como o Rómulo Gallegos (1967), o Príncipe das Astúrias (1986) ou o Cervantes (1994).
"Polemista" com uma faceta política muito vincada, bem espelhada nas suas crónicas nos jornais, chegou a candidatar-se à Presidência do país em 1990.
Ao longo da vida, foi politicamente mudando da esquerda para a direita. Apoiou a revolução cubana, visitou a ilha, até se desiludir. Quando Fidel Castro morreu, declarou que "a história não o absolverá".
Duas décadas depois, o escritor concedeu uma entrevista à Renascença no âmbito da Bienal Internacional de Poesia, em Oeiras.
Abordou temas variados que foram desde o seu longo percurso, a sua admiração pela poesia (com destaque para o trabalho de Fernando Pessoa), até à pandemia, ao poder e aos perigos que a democracia enfrenta nos dias que correm.
Para Mario Vargas Llosa, a ameaça maior que o mundo enfrenta é o nacionalismo, que, em “toda a história, foi o que causou mais estragos na humanidade”.
O escritor falou sobre a crise migratória na Europa e de como os estrangeiros servem de arma de arremesso político.
“Parece-me que há uma problemática que tem dividido o mundo entre países agressivos e países pacíficos e, na Europa, estamos a viver isso. Creio que o que é terrível é que se usem os pobres imigrantes dessa maneira abusiva como se tem utilizado”, declarou.
Dando o exemplo do trabalho da União Europeia, que acreditava ser a forma mais sensata de lidar com a crise migratória, sustentou que “o espírito nacionalista tem de ser substituído por um internacionalista”.
Questionado sobre os métodos de escrita, Vargas Llosa explicou que, normalmente, as ideias que tem para os seus livros surgem das próprias experiências da vida: “Uma pessoa, uma aventura, algo que li”.
Os primeiros rascunhos escrevia sempre à mão. Depois, quando passava as palavras para um computador, acabava por mudar muito do que fazia. “É um trabalho que demora muito tempo e que me dá um infinito prazer”.
“Levanto-me todos os dias entre as 5h00 e as 6h00 da manhã, escrevo até às 8h00. Adoro o silêncio do amanhecer. São as melhores horas do meu dia. Sou um escritor diurno”.