Siga-nos no Whatsapp
Hora da Verdade
Uma parceria entre a Renascença e o jornal “Público”. Entrevistas aos protagonistas da atualidade. Quinta às 23h20.
A+ / A-
Arquivo

HORA DA VERDADE

Ferro Rodrigues admite bloco central: "Podemos caminhar para uma situação limite"

10 abr, 2025 • Susana Madureira Martins (Renascença) e Helena Pereira (Público)


Ex-presidente da Assembleia da República considera que Pedro Nuno Santos “está” a agir igual a si próprio ao adotar progressivamente um discurso mais ao centro. Ferro Rodrigues considera que as pessoas perante “novas situações não se podem reduzir apenas a uma colocação ideológica mais à esquerda ou mais à direita”.

Ferro Rodrigues admite bloco central e pressiona Vitorino
Ferro Rodrigues admite bloco central e pressiona Vitorino

Veja também:


Eduardo Ferro Rodrigues admite que PS e PSD poderão ter de chegar a um entendimento do tipo bloco central perante uma nova crise política. “Às vezes, as circunstâncias obrigam os políticos a terem de se vergar a essas circunstâncias para defenderem o interesse nacional”, diz o antigo presidente da Assembleia da República. O ex-secretário-geral do PS antecipa que “podemos caminhar para uma situação limite”.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, Ferro Rodrigues considera, ainda, que na campanha para as eleições legislativas de 18 de maio “é impossível não falar” do caso que envolve a empresa de família do primeiro-ministro. “Foi isso que levou a esta situação de eleições que toda a gente dizia que não queria”, diz o antigo líder socialista.

Já segue a Informação da Renascença no WhatsApp? É só clicar aqui

Ferro Rodrigues lamenta ainda as saídas das listas do PS de Fernando Medina e de Sérgio Sousa Pinto, mas assume que tem de “aceitar isso como natural, embora ambos façam falta”. Em relação a Pedro Nuno Santos, Ferro Rodrigues aconselha o líder socialista: “Como em tudo na vida, as pessoas ganham em ser iguais a si próprios” e espera que “consiga ter um grande resultado para o PS”.

É um dos subscritores do Manifesto dos 50 sobre a Reforma da Justiça. Vê, por parte dos partidos políticos, a preocupação com a justiça neste período de pré-campanha?

Nunca é uma questão muito apelativa para a generalidade dos partidos e para a generalidade da opinião pública, exceto quando acontece alguma coisa suficientemente grave para que todos comecem a falar da justiça e dos seus disfuncionamentos.

O PS faz alguma aproximação a alguns problemas que existem e que são importantes que sejam tratados. Fico à espera também do programa do PSD. Mas há uma coisa importante que o PS diz, que é a sua disponibilidade para um acordo de regime nessa área.

A ação da Procuradoria-Geral da República tem melhorado com Amadeu Guerra?

Não tenho opinião sobre isso porque ainda passou muito pouco tempo. Um facto positivo é que já recebeu o manifesto e já teve duas reuniões com as pessoas representantes do manifesto e isso mostra uma abertura que não houve antes.

Já estamos numa altura de pré-campanha eleitoral, o risco de se passar esta campanha a discutir um caso Spinumviva é grande. Deseja que este assunto seja mais bem esmiuçado?

Estou como aqueles 60% de portugueses que dizem nas sondagens que não estão totalmente esclarecidos sobre essa questão, mas não me parece que esse tema seja um tema de campanha estritamente, ou seja, que elimine todos os outros temas.

Mas também não me parece que os resultados das eleições vão determinar se esse tema acaba ou não, porque pode depender de iniciativas que não cabem ao eleitorado.

É penalizador para o PS apostar neste tema durante a campanha?

É impossível não falar, porque foi isso que levou à apresentação da moção de confiança por parte do Governo e, portanto, foi isso que levou a esta situação de eleições que toda a gente dizia que não queria.

Pedro Nuno Santos tem dito que há manifesta falta de ética por parte do primeiro-ministro. Luís Montenegro não é um homem sério?

Não quero fazer considerações sobre ética ou sobre a seriedade deste ou daquele protagonista político. Recuso-me sempre a entrar nos pormenores, nos detalhes desse caso familiar, do caso do enriquecimento, do caso do património, dos rendimentos do primeiro-ministro.

Mas acha que Pedro Nuno Santos está a exagerar na forma como fala sistematicamente da questão da Spinumviva?

Não, acho que não podia deixar de falar no assunto, porque o assunto é aquele que nos leva à vertigem por eleições e que, possivelmente, não será encerrado tão cedo, vamos ver.

Ao mesmo tempo, o secretário-geral do PS não descola nas sondagens. Pedro Nuno Santos não está a capitalizar com essa situação. Porquê?

Uma das funções políticas mais difíceis que há em Portugal é ser o principal responsável do principal partido da oposição. Em Portugal, em 95% dos casos, os primeiros-ministros não perdem eleições. Há uma tendência de o eleitorado habituar-se a uma determinada cara e tem dificuldade em mudar porque não sabe exatamente o que é que vai acontecer a seguir. A necessidade de dar confiança aos eleitores é uma questão fundamental para todos os líderes da oposição.

Com a sua experiência, que conselho daria a Pedro Nuno Santos para que a campanha lhe corra melhor?

Como em tudo na vida, as pessoas ganham em ser iguais a si próprios. Eu, evidentemente, sinto-me o passageiro do banco de trás que não gosta de dar ordens propriamente a quem vai a guiar. Espero que consiga ter um grande resultado para o PS. Não farei nada no sentido de o prejudicar, porque julgo que a responsabilidade de um antigo secretário-geral do PS é permanente, mesmo depois de sair e deve, tanto quanto possível, ajudar e apoiar.

Acha que Pedro Nuno Santos está a agir igual a si próprio quando está a fazer progressivamente um discurso mais ao centro do que antes?

Está. As pessoas, quando confrontadas com a responsabilidade de poderem vir a ter de exercer o poder político ao nível de primeiro-ministro, são confrontadas com novas questões, com novas situações que não se podem reduzir apenas a uma colocação ideológica mais à esquerda ou mais à direita. Estamos numa situação gravíssima em termos internacionais e em termos nacionais, cheia de incógnitas sobre coisas fundamentais como a guerra e a paz. É evidente que não se pode ter um discurso meramente contra o que está sem alternativas.

O PS está unido com Pedro Nuno Santos?

O PS sempre teve divergências. Está tão unido como tem estado. Convém não esquecer, por exemplo, em 1983, com Mário Soares houve uma rutura de tal maneira grave que saíram das listas todos aqueles que tinham feito parte do secretariado anterior, o chamado ex-secretariado. Nessas eleições, o PS não teve maioria absoluta, teve só maioria relativa e acabou por constituir o bloco central com o PSD. Naquela altura, o problema era muito sério porque era um problema direto sobre as reservas de divisas e de ouro de Portugal. O facto é que os problemas financeiros resolveram-se e considero que foi patriótico esse momento do bloco central.

E devia haver de novo um Governo de bloco central?

Estas coisas não se constroem do pé para a mão, mas não estranharia que houvesse essa necessidade. Em 1983, eu ainda não era militante do PS e fui uma das pessoas que apoiou a solução do bloco central porque a situação do país era uma situação limite. Bem, nós podemos caminhar para uma situação limite porque há todos os ingredientes negativos do ponto de vista internacional, muito mais graves do que nessa altura.

Quando começarem a chegar à mesa dos portugueses estas tarifas extraordinárias, no sentido negativo, do Presidente Trump, as pessoas vão começar a perceber que os tempos estão a mudar e que é necessário também que os políticos aprendam alguma coisa e que tenham juízo e, portanto, não fomentem crises desnecessárias.

Está a ver Pedro Nuno Santos a ser o secretário-geral que pode conduzir o PS a um governo do bloco central?

Às vezes, as circunstâncias obrigam os políticos a terem de se vergar a essas circunstâncias para defenderem o interesse nacional e para defenderem o interesse da democracia e do Estado de Direito. E pode-se chegar a uma situação limite. Não necessariamente no fim destas eleições, mas numa próxima crise, pode haver necessidade de pôr frontalmente essa questão em cima da mesa.

Vamos ter a terceira eleição geral em quatro anos, o que é qualquer coisa de absurdo, estranho. É altura de as pessoas tomarem consciência de que têm que fazer os acordos onde é possível fazer, desde já, nas áreas de soberania.

Se houvesse um Governo de bloco central, isso não tornaria o líder do Chega numa espécie de líder da oposição?

O Chega ou está no poder ou está na oposição. Para mim, será muito melhor estar sempre na oposição. O que seria deste país se o Chega estivesse no poder? Com o comportamento de calúnia, da mentira, do insulto, da provocação, no Parlamento e fora do Parlamento, seria terrível se houvesse um Governo de direita com o Chega.

Mas, nestas eleições, quem ganhar deve formar Governo, quem perder deve-se comprometer a não apresentar moções de censura nem ao programa nem em qualquer outro momento. Os orçamentos devem ser negociados com a força relativa de quem está no poder e com a força relativa de quem está na oposição.

Como é que viu o facto de Fernando Medina e Sérgio Sousa Pinto se terem excluído das listas do PS?

São saídas com lógicas diferentes. No caso de Fernando Medina, suponho que houve algumas expetativas que foram frustradas no relacionamento com o PS e em eleições anteriores. Há quem diga que chegou a ser contactado para ter um lugar importante no Parlamento Europeu.

Quanto a Sérgio Sousa Pinto, penso estava um pouco como peixe fora de água no grupo parlamentar e no Parlamento já há uns tempos, sentia que estava a ficar relativamente exaurido pela vida política quotidiana. Neste momento, é um comentador político. Penso que escolheu nesta fase não se meter mais. Tenho de aceitar isso como natural, embora ambos façam falta às listas do PS.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.