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Guerra na Ucrânia

Zelensky não assina acordo de paz se for negociado apenas entre EUA e Rússia

13 fev, 2025 - 13:35 • Ana Kotowicz

Putin "quer fazer de tudo para tornar as negociações bilaterais", disse Zelensky. Além de Kiev, na mesa de negociações tem de estar presente também a UE, defendeu o Presidente da Ucrânia.

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Zelensky não assinará nenhum acordo de paz que seja negociado apenas entre Estados Unidos e Rússia, numa altura em que Trump parece mais disposto a ceder às pretensões de Putin do que às do Presidente ucraniano. Além de querer que Kiev seja ouvida, Volodymyr Zelensky, que falava aos jornalistas esta quinta-feira, quer que a União Europeia faça parte da mesa de negociações.

No imediato, é "importante que nem tudo saia conforme o plano" de Vladimir Putin, disse Zelensky citado pela agência Reuters.

E os planos do Presidente russo passam, na sua opinião, por manter reuniões a dois — e apenas a dois — com Donald Trump. "Ele quer fazer de tudo para tornar as negociações bilaterais", disse Zelensky. Um dos problemas com que o ucraniano se pode vir a deparar é que Trump também parece querer o mesmo.

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As declarações de Zelensky acontecem no mesmo dia em que os ministros da Defesa da NATO se reuniram em Bruxelas, com as negociações de um cessar-fogo na Ucrânia na agenda. E terminou com a Aliança Atlântica a reafirmar o apoio a Kiev, mesmo que os EUA tenham fechado a porta à pretendida adesão da Ucrânia.

Na véspera, o Presidente dos EUA anunciou que as negociações para a paz vão começar imediatamente, declaração feita depois de ter falado mais de uma hora ao telefone com Vladimir Putin.

O telefonema com Zelensky não só foi mais curto, como serviu apenas para informá-lo do que já estava decidido: Trump e Putin irão deslocar-se ao país um do outro e o primeiro encontro a dois deverá ser na Arábia Saudita. O ucraniano não está, pelo menos para já, convidado. "Não foi agradável", disse Zelensky, referindo-se ao telefonema.

Horas antes de o Presidente norte-americano falar à imprensa, o seu secretário da Defesa, Pete Hegseth, deixou claro que um acordo estará a anos-luz das pretensões de Zelensky. Não só a ideia de a Ucrânia regressar às fronteiras pré-2014 (data da invasão russa da Crimeia) é "irrealista", como foi posto completamente de parte a possibilidade de aceitar a adesão da Ucrânia à NATO como garantia de segurança para acabar com a guerra da Rússia.

As declarações de Hegseth foram feitas durante uma reunião do Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia, composto por 46 nações, em Bruxelas. Esta quinta-feira, à entrada do encontro da NATO, considerou que o acordo de Trump "não é uma traição à Ucrânia" e que a paz "exigirá que ambos os lados reconheçam coisas que não querem".

Dar tudo à Rússia antes das negociações? Não funciona

Entre os líderes europeus, as críticas à forma como o assunto foi tratado pelos Presidentes russo e norte-americano começaram a ouvir-se esta quinta-feira em Bruxelas.

"Está claro que qualquer acordo que seja feito nas nossas costas não irá funcionar. Qualquer acordo precisa que também a Ucrânia e a Europa façam parte dele", defendeu a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, à entrada para a reunião da NATO.

"Por que é que estamos a dar à Rússia tudo o que eles querem antes mesmo das negociações começarem?", questionou a política estónia. "É apaziguamento. Nunca funcionou", disse Kallas, numa referência à política de apaziguamento, usada quando um Estado se limita a aceitar as imposições de outro, sem qualquer tipo de negociação ou luta.

Paz imposta? Não, obrigado

Numa entrevista ao Politico, o chanceler alemão foi mais um a criticar Donald Trump por estar a fazer concessões à Rússia antes de qualquer negociação formal. Por isso, considerou que "a próxima tarefa é garantir que não haja uma paz imposta" à Ucrânia.

Olaf Scholz também defendeu que a Ucrânia mantenha "um exército forte" no pós-guerra, seja qual for o acordo de paz firmado. E deixou um aviso: "Não é claro em que condições a Ucrânia estaria disposta a aceitá-lo."

As ideias do primeiro-ministro do Reino Unido sobre o assunto são semelhantes. Keir Starmer, citado pela BBC, defendeu ser "muito importante que a Ucrânia esteja na posição mais forte possível" quando começarem negociações sobre a paz.

"Ninguém quer que o conflito continue e os ucranianos – mais do que ninguém – querem que o conflito termine, mas precisamos garantir que a Ucrânia esteja no centro" de qualquer acordo. "Não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem que a Ucrânia esteja no centro."

Nem mais um quilómetro para Putin

Putin “não pode capturar nem mais um quilómetro quadrado da Ucrânia no futuro” e cabe à NATO garantir esse cenário. Mark Rutte disse-o em Bruxelas, antes do arranque da reunião da Aliança Atlântica. No final, veio reafirmar que os aliados estão ao lado da Ucrânia.

O secretário-geral da NATO disse mesmo que há uma convergência entre os aliados de que "a paz deve voltar à Ucrânia em breve".

E da mesma forma que, no Reino Unido, Starmer disse ser importante continuar a enviar apoio financeiro para Kiev para manter a capacidade militar do país, Rutte defendeu a necessidade de os países da NATO investirem mais na produção industrial de armas: “Temos indústrias de armas fantásticas mas não estamos a produzir o suficiente.”

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