14 fev, 2025 - 01:03 • Marisa Gonçalves
O ex-embaixador em Espanha, António Martins da Cruz, lembra que a negociações para a paz na Ucrânia ainda não começaram e que apenas houve contactos prévios nesse sentido. Por isso, diz estranhar algumas reações que considera “exageradas” e, em declarações à Renascença, dá como exemplo o caso da Ata Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Kaja Kallas.
“Eu estranho muito, com alguma experiência que tenho, que a Senhora Kallas tenha assinado uma declaração sobre negociações para a Ucrânia com cinco ou seis países europeus, sem ter procurado que todos os outros tenham assinado. Ao falar de política externa Europeia, Kallas não pode falar só em nome de cinco ou seis Estados-membros. Ou fala em nome dos 27, ou então está calada” aponta.
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A chefe da diplomacia europeia declarou, esta quinta-feira, que “qualquer solução rápida é um acordo sujo” e criticou a forma como Trump geriu um potencial entendimento de paz.
Em declarações à Renascença, António Martins da Cruz considera que a Conferência de Segurança de Munique não vai tratar das negociações de paz para a Ucrânia, mas será uma boa oportunidade para conversações.
“Enquanto na sala principal da reunião haverá vários interlocutores a tratar de Defesa, nos corredores, nas salas ao lado, vão reunir-se europeus, ucranianos e americanos, muito provavelmente também para falar de negociações, ou dessa possibilidade. As negociações ainda não abriram formalmente e não será seguramente ali que elas vão ser declaradas abertas. Isso será quando americanos, russos e ucranianos assim o decidirem”, refere.
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Acrescenta o antigo diplomata que a Europa deve procurar estar próxima do processo negocial, mas não está definido de que forma tal poderá acontecer. Tudo irá depender do que vier a decidir Washington.
“A Europa deve procurar estar próxima. Resta saber se as partes diretamente envolvidas querem a Europa sentada à mesa ou querem-na numa sala ao lado para a irem informando daquilo que se passa. Eu percebo que haja países como a França, a Alemanha e, eventualmente, a Polónia, que gostariam de ser envolvidos, vamos ver o que fará a administração Trump. Se vai dirigir-se a Bruxelas e falar com os 27 ao mesmo tempo ou se vai escolher três ou quatro capitais a quem passa informação privilegiada”, sustenta.
António Martins da Cruz perspetiva ainda que as negociações vão ser difíceis e demoradas, especificando algumas das questões em causa.
“Os territórios ocupados pela Rússia vão ser negociados? Em que medida? O território em Kursk ocupado pela Ucrânia pode ou não ser trocado por algum dos territórios? O que vai ser feito aos prisioneiros de guerra? O que vai acontecer às sanções? O que acontecerá aos depósitos de várias centenas de biliões de euros de dinheiro russo congelado nos bancos europeus e norte-americanos?”, questiona.
Esta sexta-feira tem início a Conferência de Segurança de Munique, encontro mundial de diplomacia e defesa que decorre na capital da Baviera, no sudeste da Alemanha e que vai prolongar-se até domingo.
O conflito na Ucrânia será um dos temas abordados, no âmbito desta reunião.