07 fev, 2025 - 22:22 • Anabela Góis
Manuela Pacheco, vice-presidente da Associação de Farmácias de Portugal, diz que os números esta sexta-feira divulgados pelo Infarmed pecam por defeito e garante que a falta de medicamentos é transversal a todas as cerca de 3000 farmácias que existem no país.
“Pode haver alguns casos de negligência, mas na maior parte das vezes o que se reconhece é que notificar ou não notificar [a falta de medicamentos] não faz diferença, porque não acrescenta vantagem na altura de sermos abastecidos”, diz.
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Segundo um relatório hoje divulgado pelo Infarmed, mais de metade das farmácias reportaram falta de medicamentos no ano passado. São sobretudo medicamentos para a diabetes, hiperatividade e défice de atenção, mas também para o cancro.
Manuela Pacheco diz que o problema já “começa a ser crónico”. “É muito grave para as farmácias mas, sobretudo, para os doentes” que não se poupam a esforços para continuarem os tratamentos.
O relatório do Infarmed assinala que, em 2024, ape(...)
Há “utentes que telefonam para todas as farmácias, para ver se conseguem ficar em lista de espera, o que não é possível. E há pessoas que se deslocam de concelho para concelho, alguns a 80 quilómetros de distância, porque na farmácia tal, ou porque é numa localidade mais pequena ou mais no interior, pode ser que haja.”
A vice-presidente da AFP sublinha que não são só os medicamentos que faltam nas farmácias. Alguns dispositivos médicos também não chegam para todos.
“É o caso dos sensores para determinação dos valores de glicemia, muito utilizados pelos diabéticos. E isto porque há quotas para as farmácias. Não podemos ter mais do que x naquele mês, que são manifestamente insuficientes para satisfazer as necessidades dos nossos utentes”, diz.
À Renascença, Manuela Pacheco denuncia outro problema que considera muito grave e com o qual as farmácias se confrontam diariamente: doentes crónicos que se veem impossibilitados de comprar a medicação de sempre, porque não têm acesso a receita médica nem possibilidade de pagar os medicamentos sem a devida comparticipação.
“É uma franja muito grande de utentes que não tem acesso às prescrições médicas em tempo útil porque não têm médico de família ou não têm a consulta em tempo útil”.
Há casos, adianta Manuela Pacheco, de pessoas que esgotam a receita para 12 meses e nesse período não conseguem marcar consulta e por isso “não têm acesso a nova prescrição e as farmácias também não podem vender ou estariam a violar a lei”.