08 mar, 2025 - 02:02 • Diogo Camilo
Foi o maior contrato conseguido pela empresa de Luís Montenegro e representou cerca de metade da faturação de 2022, antes de o primeiro-ministro se tornar presidente do PSD. Num trabalho que durou quase dois anos, a gasolineira que pertence ao pai de João Rodrigues, candidato do PSD a Braga nas autárquicas de 2025, pagou quase 200 mil euros à Spinumviva, avança agora o Observador.
O candidato autárquico a Braga confirma a ligação, mas diz não ter qualquer ligação formal ou informal à gasolineira. No entanto, tem ligações à Spinumviva: é casado com Inês Varajão Borges, contratada pela empresa familiar para prestar serviços especializados em proteção de dados quando Luís Montenegro deixou a empresa, em 2022.
No comunicado divulgado pela Spinumviva a 28 de fevereiro, no qual a empresa revelou os clientes e trabalho que realizava, o nome da advogada surgia como Inês Patrícia.
Além das ligações à Spinumviva, João Rodrigues tem também ligações ao braço direito de Luís Montenegro: é um dos sócios fundadores do escritório de Hugo Soares, a HMR, para a qual também trabalha Inês Varajão Borges, embora já se tenha desvinculado do escritório de advogados.
Segundo o Observador, a Joaquim Barros Rodrigues & Filhos pagou 194 mil euros mais IVA pela reestruturação da empresa. O valor representa cerca de metade de toda a faturação da empresa naquele ano de 2022 - o último de Montenegro à frente da Spinumviva, antes de abraçar a liderança do PSD.
O valor representa também mais de 20% de toda a faturação da empresa desde que existe, mais do que o valor total da avença mensal da Solverde, no valor de 4.500 euros, que totalizou 193 mil euros desde julho de 2021 até fevereiro deste ano, tendo sido terminado o contrato esta semana.
Spinumviva
No espaço de três anos e meio, a Spinumviva recebe(...)
Ao Observador, o sócio-gerente e pai de João Rodrigues, Jorge Rodrigues, diz conhecer "há muito tempo" Luís Montenegro e que o considerou uma "pessoa qualificada" e que o pagamento foi feito "com total justiça pelo extraordinário acompanhamento, disponibilidade e profissionalismo".
No debate da moção de censura de 21 de fevereiro, Montenegro disse o seguinte sobre o contrato com a Joaquim Barros Rodrigues & Filhos:
“O pico de faturação de 2022 e 2023 explica-se pela conjugação de dois fatores. O primeiro e mais importante foi que em 2022, ainda antes de apresentar a candidatura ao PSD, fechei e apresentei a conta final do valor devido pela prestação de serviços da reestruturação de uma empresa familiar de comércio de combustíveis que envolveu consultadoria de gestão, planeamento estratégico, apoio e formalização das respetivas operações, no âmbito de processos negociais de arrendamento, fornecimento de combustíveis, embandeiramento das estações de serviço, o que se alcançou finalmente depois de várias tentativas com operadores estrangeiros, todos eles estrangeiros. Este trabalho, que durou mais de dois anos, foi responsável por sensivelmente metade do volume de negócios de 2022.”
De fora do comunicado ficaram os clientes pontuais da empresa, responsáveis por uma parte considerável da faturação. No debate da moção de censura, Montenegro referiu quatro clientes: uma “empresa familiar de comércio de combustíveis”, que agora o Observador revela como sendo a Joaquim Barros Rodrigues & Filhos, uma “fábrica de equipamento industriais”, uma “empresa de transportes de mercadorias” e a Cofina (atual Medialivre), dona da CMTV, Correio da Manhã e do Record, entre outros.