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Homilia da missa exequial de Francisco. “Foi um Papa no meio do povo, com um coração aberto a todos”

26 abr, 2025 - 09:14 • Ângela Roque

Cardeal Giovanni Battista Re lembrou os principais momentos do pontificado de Francisco, o seu apelo permanente a que se construam “pontes e não muros”, porque a guerra "é sempre uma derrota", e a “convicção de que a Igreja é uma casa para todos”. A homilia terminou com um pedido ao Papa para que, "do Céu", abençoe "a Igreja” e “o mundo inteiro”.

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"Um Papa no meio do povo". Pontificado "intenso" de Francisco evocado na missa exequial
"Um Papa no meio do povo". Pontificado "intenso" de Francisco evocado na missa exequial

A homilia da Missa Exequial do Papa Francisco foi presidida pelo cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, em nome do qual começou por agradecer a presença de todos neste momento, e ao longo dos últimos dias.

A manifestação popular de afeto e adesão, a que assistimos nos últimos dias, após a sua passagem desta terra para a eternidade, mostram-nos quanto o intenso pontificado do Papa Francisco tocou mentes e corações”, afirmou, sublinhando que apesar da “fragilidade nesta reta final e do seu sofrimento, o Papa Francisco escolheu percorrer este caminho de entrega até ao último dia da sua vida terrena”.

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O cardeal Battista Re recordou que o pontificado ficou, desde logo, marcado pela escolha do nome ‘Francisco’, e pela espontaneidade que teve sempre. “Conservou o seu temperamento e a sua forma de orientação pastoral, imprimindo de imediato a marca da sua forte personalidade no governo da Igreja, estabelecendo um contacto direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados”.

“Foi um Papa no meio do povo, com um coração aberto a todos”, e “atento àquilo que de novo estava a surgir na sociedade e àquilo que o Espírito Santo estava a suscitar na Igreja”, e que “com o vocabulário que lhe era caraterístico e com a sua linguagem rica de imagens e metáforas, procurou sempre iluminar os problemas do nosso tempo com a sabedoria do Evangelho, oferecendo uma resposta à luz da fé e encorajando-nos a viver como cristãos os desafios e as contradições destes anos cheios de mudanças, que ele gostava de descrever como uma ‘mudança de época’”.

“[Francisco] Tinha uma grande espontaneidade e uma maneira informal de se dirigir a todos, mesmo às pessoas afastadas da Igreja. Dotado de grande calor humano e profundamente sensível aos dramas de hoje, o Papa Francisco partilhou em pleno as angústias, os sofrimentos e as esperanças do nosso tempo”.

Uma das lutas de Francisco foi mostrar que a Igreja tem de ser inclusiva, ter perdão e misericórdia. O cardeal Battista Re considerou que “o fio condutor da sua missão" foi "a convicção de que a Igreja é uma casa para todos; uma casa com as portas sempre abertas”, lembrando que “várias vezes utilizou a imagem da Igreja como um ‘hospital de campanha’, depois de uma batalha em que houve muitos feridos; uma Igreja desejosa de cuidar com determinação dos problemas das pessoas e das grandes angústias que dilaceram o mundo contemporâneo; uma Igreja capaz de se inclinar sobre cada homem, independentemente da sua fé ou condição, curando as suas feridas”.

Battista Re lembrou como o Papa foi sensível e atento aos principais dramas da atualidade, e que alguns dos principais momentos do pontificado corresponderam às suas prioridades pastorais, a começar pela atenção aos migrantes e refugiados, numa referência que arrancou aplausos entre os fiéis que escutavam a homília.

É significativo que a primeira viagem do Papa Francisco tenha sido a Lampedusa, ilha símbolo do drama da imigração, com milhares de pessoas afogadas no mar. Na mesma linha se inscreve a viagem a Lesbos, com o Patriarca Ecuménico e o Arcebispo de Atenas, assim como a celebração de uma Missa junto da fronteira mexicana com os Estados Unidos, por ocasião da sua viagem ao México”.

Lembrou, ainda, que “das suas 47 cansativas viagens apostólicas, ficará para a história, de modo especial, a que fez ao Iraque em 2021”, uma visita que apesar dos riscos “foi um bálsamo para as feridas do povo iraquiano, que tanto tinha sofrido com a ação desumana do Estado Islâmico”, e “importante também para o diálogo inter-religioso, outra dimensão relevante do seu trabalho pastoral”, tal como a visita que realizou em 2024 a “quatro nações da Ásia-Oceânia”, que o levou “à periferia mais periférica do mundo”.

“Misericórdia e alegria do Evangelho são duas palavras-chave do Papa Francisco”, afirmou ainda, lembrando que em contraste com a “cultura do descarte”, que sempre denunciou, o Papa Francisco promoveu a “cultura do encontro e da solidariedade”, deixando à Igreja e ao mundo importantes documentos, como a encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade universal, em que lembra que “todos pertencemos à mesma família humana”, e a encíclica ‘Laudato Si’, sobre a ecologia integral, onde “chamou a atenção para os deveres e a corresponsabilidade em relação à casa comum”, porque “ninguém se salva sozinho”.

Os seus apelos constantes à paz nos vários conflitos mundiais foram igualmente lembrados. “Perante o eclodir de tantas guerras nos últimos anos, com horrores desumanos e inúmeras mortes e destruições, o Papa Francisco levantou incessantemente a sua voz implorando a paz e convidando à sensatez, a uma negociação honesta para encontrar soluções possíveis, porque a guerra – dizia ele – é apenas morte de pessoas e destruição de casas, hospitais e escolas. A guerra deixa sempre o mundo pior do que estava: é sempre uma derrota dolorosa e trágica para todos. ‘Construir pontes e não muros’ é uma exortação que ele repetiu muitas vezes”.

A fechar a homilia, deixou um apelo especial. “O Papa Francisco costumava concluir os seus discursos e encontros dizendo: ‘Não vos esqueçais de rezar por mim”. Querido Papa Francisco, agora pedimos-Vos que rezeis por nós e que, do céu, abençoeis a Igreja, abençoeis Roma, abençoeis o mundo inteiro, como fizestes no domingo passado, do balcão central desta Basílica, num último abraço a todo o povo de Deus, mas também, idealmente, à humanidade que procura a verdade de coração sincero e segura bem alto a chama da esperança”.

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