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Novas Crónicas da Idade Mídia
O que se escreve e o que se diz nos jornais, na rádio, na televisão e nas redes sociais. E como se diz. Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo são quatro jornalistas com passado, mas sempre presentes, olham para as notícias, das manchetes às mais escondidas, e refletem sobre a informação a que temos direito. Todas as semanas, leem, ouvem, veem… E não podem ignorar. Um programa Renascença para ouvir todos os domingos, às 12h, ou a partir de sexta-feira em podcast.
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​A palhaçada da Sala Oval

Novas Crónicas da Idade Mídia

​A palhaçada da Sala Oval

14 fev, 2025 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo


O perdão da multa à Banca, os truques mediáticos de Donald Trump, a "saúde" da rádio, o plano de ação do Governo para os Media, a lesão de Gyökeres e o construtor de marquises que chegou a primeiro-ministro são alguns dos temas em debate nesta edição.

A Banca violou a lei, promoveu um cartel nos spreads, durante 10 anos, em claro prejuízo dos clientes, diz a Autoridade da Concorrência. O Tribunal condenou 11 Bancos, com a CGD à cabeça. A multa de 225 milhões prescreveu, diz a Relação. A Autoridade da concorrência deverá recorrer.
Para o cidadão, a ideia que fica é de impunidade de quem prevarica. Alastra a convicção de que a Justiça não funciona. Mesmo que tenha sido a Autoridade da Concorrência a deixar passar o prazo para evitar a prescrição.

Portugal caiu 9 lugares, no índice de perceção de corrupção da Transparência Internacional. Está agora na 43ª posição, a par do Ruanda e Botswana. E abaixo da Arábia Saudita e da Costa Rica. Melhor do que Espanha e Itália, contudo. São indicadores preocupantes que, de resto, refletem um sentimento generalizado da sociedade.
Estamos prisioneiros de uma “cultura da corrupção”, como lhe chamou João Miguel Tavares, no Público? Não estará na hora, mais do que no tempo, para os partidos do centro político, da esquerda e a direita, reagirem contra esta cultura que se instalou de capturar tudo o que é público? “Houve essa reação quando foi necessário montar a máquina fiscal (Paulo Macedo); não é possível fazê-lo com a justiça?”, pergunta Pedro Norton, no Público (11). Paulo Portas dizia, há muitos anos, que se tinha perdido o “espírito de serviço”. Talvez tenha tido razão por antecipação.

Em três semanas na Casa Branca, Donald Trump já fez tudo e o seu contrário; disse o que não lembra a ninguém e desdisse o que havia dito. Quer comprar a Gronelândia, Gaza e todas as terras raras que houver. Quer fazer do Canadá um Estado da Federação Americana, rebentar com o comércio mundial. Oferece asilo a agricultores brancos que sejam perseguidos na África do Sul. A bordo do Air Force One, assinou uma ordem executiva para rebatizar o Golfo do México, numa encenação patética que não é validado por ninguém.
Transformou a Casa Branca no living lá de casa, onde aparece Musk, de boné, com o filho às cavalitas, a falar aos jornalistas. A palhaçada mantém Trump com a aprovação mais alta de sempre para um presidente americano em funções (53%), de acordo com uma sondagem da CBS.

Estamos no tempo do espetáculo. O Hamas monta um circo para devolver reféns; Trump encena todos os dias um novo truque mediático, banalizando a Sala Oval, um dos símbolos de poder das democracias ocidentais. Não se trata de informalidade. É puro abandalhamento.

A decisão de cancelar a presença física nas instalações governamentais de alguns órgãos de informação, como o New York Times, o Washington Post, a NPR, a rádio pública americana, a CNN ou a NBC, entre outros, deixa o presidente americano mais livre para encenar o espetáculo que melhor lhe convier. O grupo “Republicans against Trump” tem a convicção de que se trata de impor publicações tuteladas pelo Estado, como fazem os regimes totalitários.

Cada vez mais central na vida das pessoas, também devido à inovação digital que desenvolveu – os podcasts são um exemplo eloquente -, a rádio celebrou esta quinta-feira (13) o seu Dia Mundial, com o vigor das convicções e a consciência do papel de relevo que tem neste nosso tempo. Se rádio é som (e palavra), e o som e a palavra são a chave da utilização das tecnologias, então o futuro pertence à Rádio.

Mais de metade das empresas de Media teve resultados positivos em 2023. A MediaLivre (antes Cofina) mantém contas operacionais saudáveis desde 2014. Global Media e Público no vermelho nos últimos 10 anos. Impresa e Media Capital também com resultados positivos no ano a que o relatório da ERC faz referência (2023). Trust in News, Global Media e outros grupos de menor dimensão têm sentido muitas dificuldades neste novo tempo.

O plano de ação do Governo para os Media são 30 medidas que valem 55 milhões. Para que o investimento governamental tenha algum impacto é preciso fazer o que nunca foi feito: do lado do Governo, ajustar a legislação do sector à realidade dos nossos dias, integrando as plataformas digitais nas soluções que forem encontradas; do lado das empresas, redesenhar as estruturas, adaptá-las às necessidade de resposta de hoje, cada mais exigente e veloz, investir na diferenciação e no talento profissionais e na reorganização das linhas de produção de conteúdos, simplificando processos e meios envolvidos, usando a tecnologia disponível; do lado dos jornalistas e outros profissionais de comunicação estudar a IA e tomá-la como aliada no desenvolvimento do seu trabalho.
Só com a articulação de todas estas vontades será possível alterar a atual situação dos Media em Portugal e construir soluções sustentáveis que permitam estabelecer um novo modelo de negócios. Na área pública de Media, o Governo tem um plano de reorganização e modernização da RTP que teremos de esperar para perceber qual a dimensão e o alcance; pretende clarificar a estrutura acionista da Lusa, definir um novo modelo de governação, modernizar tecnologicamente a empresa e estabelecer o quadro de benefícios para Órgãos de Comunicação Social. No caso da Lusa, conviria esclarecer se a intenção do Governo é integrar a agência de notícias no Serviço Público de Media, concessionado à RTP?

O Bloco de Esquerda propõe que a ERC emita parecer prévio sobre a idoneidade dos donos dos Media. É uma proposta sensata, que pode evitar muitos problemas futuros (v.g. Global Media).

Os repórteres no final do jogo com o Dortmund não quiseram saber do jogo. Apenas estavam interessados em pormenores sobre a lesão de Gyokeres. Rui Borges respondeu à mesma pergunta vezes sem conta, com a paciência de um santo.
Com Lage, na antecipação ao jogo desta quinta-feira (13) no Mónaco, os repórteres estavam mais interessados em que ele comentasse as declarações de Jesus (entrevista ao canal 11). Estamos a perder o sentido das coisas?
Os operadores de tv ingleses querem entrevistar treinadores durante os jogos. Submetidos a intensa pressão diária, os treinadores hoje deveriam ter preparação específica em comunicação para responderem a todas as solicitações. E são largas dezenas ao longo da época. Alguém consegue imaginar um treinador a justificar, no momento, porque faz esta ou aquela substituição ou muda o plano de jogo?
O negócio do futebol está a esticar a corda. Os Media estão a enlouquecer com o espetáculo dentro do próprio espetáculo. Pode correr mal. Para resolver uma rixa entre dois grupos portistas, a Polícia encostou adeptos do Porto à parede. Não nos demos conta de qualquer indignação social com as fotos. Nem comparações com outros tempos. É porque a parede não era na Rua do Benformoso?

O enigma desta semana é tão grande que não deixa lugar para qualquer outro. Pacheco Pereira disse na CNN, no programa “O Princípio da Incerteza”, a propósito da pequena e média corrupção nas organizações partidárias: “conheci um homem que fazia marquises no concelho ao lado porque não podia fazer no próprio concelho, que chegou a primeiro-ministro…toda a gente sabia que havia uma série de procedimentos que não eram aceitáveis”. Um construtor de marquises que chega a primeiro-ministro? Quem será?

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  • AMERICO SOUSA
    18 fev, 2025 Arcozelo- VNG 13:53
    Relativamente á possibilidade de entrevistar os treinadores, recordo que no Andebol as televisões já escutam os descontos de tempo das equipas. Passou despercebido. Considero um abuso.