Siga-nos no Whatsapp
Novas Crónicas da Idade Mídia
O que se escreve e o que se diz nos jornais, na rádio, na televisão e nas redes sociais. E como se diz. Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo são quatro jornalistas com passado, mas sempre presentes, olham para as notícias, das manchetes às mais escondidas, e refletem sobre a informação a que temos direito. Todas as semanas, leem, ouvem, veem… E não podem ignorar. Um programa Renascença para ouvir todos os domingos, às 12h, ou a partir de sexta-feira em podcast.
A+ / A-
Arquivo
As legislativas que ninguém quer

As legislativas que ninguém quer

14 mar, 2025


A imprensa assinalou com destaque os 50 anos do 11 de março de 1975. A Visão e a Sábado voltaram a coincidir nas capas. A revista do Expresso evocou os 40 anos da nomeação de Gorbatchov para secretário-geral do PCUS com uma excelente entrevista a William Taubman, autor de uma das biografias do antigo dirigente soviético, que considera Gorbatchov “um bolchevique que queria mudar o mundo”.

O grupo francês Vivendo, proprietário da Europe1 e do Journal du Dimanche, próximo do Kremlin, tem vindo a atacar Macron desde que o presidente francês iniciou o seu combate público contra a Rússia e a defesa do fortalecimento militar da Europa.

Todos vimos nas televisões imagens nunca vistas que deixaram meio mundo perplexo: um stand de automóveis montado à frente da Casa Branca, com exposição de vários modelos da Tesla. Trump aparece a vender o material exposto e a “comprar”. Musk também aparece na palhaçada, com o filho a tiracolo. Será que o filho vai à escola?

Esta 4a feira (dia 12), no dia imediatamente a seguir à queda do Governo, o Chega mandou plantar em Lisboa cartazes com fotos de Montenegro em primeiro plano e, mais recuado, Sócrates. Ventura por cima do cartaz com dois dedos espetados, um sobre a cabeça de Montenegro; outro, sobre a inscrição “50 anos de corrupção”. O cartaz e a entrevista que André Ventura concedeu à SIC nessa mesma quarta-feira, no Jornal da Noite, retratam sem surpresa o tom do discurso do Chega. Será este o padrão geral da campanha eleitoral que aí vem?

Como é conhecido, o Governo caiu na sequência da rejeição da moção de confiança apresentada pelo Governo. Luís Montenegro ainda foi à TVI, na noite anterior para voltar a explicar o que ninguém quer ouvir. Sandra Felgueiras, a entrevistadora, chamou ao momento uma “mini comissão de inquérito” e “uma espécie de julgamento final”. Um excesso. Uma liberdade jornalística despropositada.

No fim de um dia no Parlamento com truques e indignações várias, e a discussão do prazo de uma CPI mais para “grelhar” do que para esclarecer, o que sobrou é que todos os partidos, não querendo, querem eleições legislativas antecipadas. O PSD quer tentar a maioria; o PS quer vingar a derrota de 2024; Ventura sonha com uma oportunidade, já pedida em cartazes de rua. Os portugueses, principais destinatários da coisa, não querem. Disseram-no de forma inequívoca (70%), numa sondagem publicada pela TVI. Valeu nada. O Presidente da República convocou os partidos, reuniu o Conselho de Estado, dissolveu a Assembleia (dia 14) e marcou eleições para 18 de Maio. Ainda esta semana (dia 12), o PGR anunciou uma “averiguação preventiva” a Montenegro. O Expresso desta sexta-feira (14) traz na primeira página: “Luís Montenegro prometeu, mas não entregou à PJ faturas da casa de Espinho”. O primeiro-ministro tem dias difíceis pela frente. A sondagem publicada pelo CM retrata o primeiro-ministro em perda.

A acreditar nas evidências destes últimos dias, a campanha para as eleições de Maio decorrerá num ambiente crispado, sem contenção verbal, provavelmente mesmo com uma linguagem rasteira, para dizer o mínimo. Terá Montenegro condições para resistir? Mais do que o confronto de ideias, o que estará em causa será a confiança que os eleitores depositam nos candidatos ao cargo de primeiro-ministro?

O Chega antecipa-se a todos e apresenta as suas próprias conclusões da CPI das Gémeas. Nunca se viu tal comportamento. O BE acusa o Chega de usar um relatório, desconhecido dos outros membros da comissão, que não foi sequer aprovado como documento final das conclusões da CPI. Onde está a surpresa? Não é para arma de arremesso político que têm servido as CPI’s?

A Rússia impõe condições para o cessar-fogo acordado entre os Estados Unidos e a Ucrânia. Putin pretende que a trégua conduza a uma paz duradoura, neutralizando a origem do problema. A comunidade internacional sabe qual é “a origem do problema”, na perspetiva russa. Apesar do recente aumento das sanções americanas, dificilmente o Kremlin aceitará imposições da Casa Branca. Mais uma contrariedade para a administração americana que acaba de “perder” as eleições na Gronelândia. A oposição de centro-direita, vencedora do ato eleitoral, defende a independência do território de forma gradual, o que atrasa os planos de Trump para tomar a ilha.

Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, Portugal proibiu a circulação e venda do caracol maçã. A Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) está atenta, caso Portugal venha a deparar-se com uma invasão em larga escala. Isto não vale uma averiguação preventiva? Com tantas ideias baseadas na percepção, talvez estejam criadas as condições para a criação de uma nova ciência: a percepsologia. Os comentadores passariam a ser percepsólogos. Um condutor que mate ou atropele um peão numa passadeira pode ser penalizado com prisão até 2 anos ou é multado. Prisão até 2 anos? Não está na altura de rever o quadro legal? “Escândalo ético em Portugal” escreve o Finantial Times sobre a crise política portuguesa. Em nenhum momento da discussão no Parlamento se ouviu a palavra “ética”. Porque é que a ética desapareceu da política?

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.