16 mai, 2025 • Eduardo Oliveira e Silva, Luís Marinho, Luís Marques e Rui Pêgo
Esta sexta-feira, à meia-noite, termina a campanha eleitoral para as legislativas de domingo, 18. A campanha viveu para a televisão. Apoiada na rádio e nas redes sociais. Uma campanha autista em relação ao estado do mundo. As arruadas já não são o que eram. As caravanas são formadas pelas comitivas do líder e pelos acólitos locais.
Montenegro e Pedro Nuno cobiçam, despudoradamente, 3 milhões de pensionistas. E ameaçam-se: o chefe socialista insiste que a Direita quer privatizar a Segurança Social; a AD nega veementemente o propósito. Em vez de explicarem onde vão buscar recursos para Portugal cumprir as novas e mais exigentes obrigações militares com a NATO, é muito mais fácil jogar volley de praia, em Espinho, ou andar de moto como um jovem radical e moderno. Teria sido preciso muita coragem política para meter a Defesa na campanha.
A verdade é que a campanha nos telemóveis, rende. Ventura tem 33 vezes mais contactos do que o segundo da lista, que é Montenegro. A “Marcelização” da campanha (Ana Sá Lopes, Público, 14) é uma viagem sem regresso. Sendo que o candidato que foi motorista de táxi por um dia e mergulhou nas águas poluídas do Tejo não é imitável. Marcelo é irrepetível.
A campanha teve tudo: uma candidata (Joana Amaral Dias) a interferir em ações de outras forças políticas e a interpelar diretamente os seus concorrentes, num despropósito sem limites; um líder parlamentar (Chega), perante o “fanico” do chefe, como classificaram Ana Sá Lopes e Raquel Abecassis (SICN, quinta, 15) e em resposta à pergunta se Ventura tinha tido um tratamento de exceção no Hospital, não resistiu a ser rasteiro: “não podem querer que (…) vá para uma cama onde ao lado esteja, por exemplo, alguém da etnia cigana”. André Ventura, pelo seu lado, fez tudo:mostrou-se na cama do hospital (como Bolsonaro); mostrou-se à saída do hospital com a camisa aberta e o casaco só com um braço vestido; um Almirante que, a 3 dias das eleições legislativas, a contrário do que havia dito,veio anunciar a sua mais do que decidida candidatura à presidência da República. O mérito da Renascença, para lá de ter sido a mensageira da “revelação”, é que transformou uma não notícia num tema central da campanha eleitoral. Anunciar que não era candidato é que seria notícia, como disse Paulo Raimundo. “A democracia não precisa de militares”, disse o sr. Almirante. E então? O ex-CEMA também pediu uma forca no dia em que fosse candidato. A campanha teve tudo, de facto. Menos discussão dos temas centrais da nossa vida: o mundo novo que aí está, a Defesa e as tarifas, a governabilidade do país. Como diz o poeta “a paz, o pão; habitação, saúde, educação”.
O encontro do Papa com jornalistas (Vaticano, segunda, 12) é um gesto cheio de significado, num momento de tentativas de descredibilizar os Media tradicionais e afastá-los do acesso à informação direta dos poderes instituídos, como aconteceu com alguns correspondentes em Washington. Leão XIV pediu a libertação de jornalistas presos e defendeu a liberdade de expressão, reiterando “a solidariedade da Igreja para com os jornalistas presos por procurarem e reportarem a verdade".
A equipa da RTP foi excluída de todos os eventos oficiais da presidência angolana e retirada da sala de imprensa do Palácio da Cidade Alta. As direções de informação da empresa pública de rádio e televisão reagiram, exigindo a reposição do acesso dos seus jornalistas. Os problemas da RTP não acabam aqui. O presidente explicou publicamente que espera que surja do interior da empresa e das suas equipas de direção a solução para a RTP3, o canal de informação que demonstra grandes dificuldades na concorrência direta com os privados.
Sem solução estratégica parece estar também a RTP2, com resultados de audiência muito modestos. São “hesitações” difíceis de entender tendo em conta que, no quadro do novo contrato de concessão, a administração da empresa dispõe de maior autonomia de decisão em relação à definição estratégica dos canais existentes ou a criar. Sabe-se também que José Rodrigues dos Santos não integrará a equipa para a emissão especial das Legislativas deste domingo. Um castigo pelo episódio com o secretário-geral do PCP? Se não é, parece.
O futebol manda nas audiências de televisão. Se dúvidas existissem, o dia do Benfica/Sporting (sábado, 10) tinha sido clarificador. A CMTV inscreveu 4 programas no top ten. O relato de rádio na televisão colheu a preferência de mais de 800 mil pessoas. Mais interessante: quem viu o jogo na SportTV, foi ver os comentários à CMTV. Estará para breve, em Portugal, o pagamento de direitos dos relatos radiofónicos?
Na Conferência da Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT, quinta, 8), José Eduardo Moniz defendeu que o Estado deve subsidiar a medição de audiências. O diretor-geral da TVI explica que a medição mudou muito nos últimos anos, com a necessidade de avaliação do não linear. Para aliviar os encargos dos operadores de televisão, parece ter muito mais impacto reavaliar o papel e o custo da TDT que serve, hoje, uma franja residual de cidadãos.
Em suplemento ao programa, nos Grandes Enigmas, porque é que Ventura sai do hospital a mostrar as mazelas? Quem são os ricos que o Bloco quer taxar? Porque é que os jornalistas continuam a aturar a malcriação de Ventura? A paciência dos portugueses que pagam mensalmente os transportes públicos é inesgotável?